domingo, 19 de novembro de 2017

água e equilíbrio

Foto Mafalda Mendes de Almeida
Não se previnem secas deixando de regar jardins ou cortando a água às fontes. O deserto não pode tornar-se ainda mais árido porque falta a água. Ou melhor, a água não falta. Falta a vergonha de admitir que se faz com água o mesmo que se faz com as grandes fortunas, acumuladas nas mãos de um punhado de gente a quem falha o entendimento do equilíbrio de todas as coisas.
Faz algum sentido que pelo menos setenta por cento do corpo humano seja água e tenha surgido dessa forma num mundo com escassez da mesma? 
Também não faz sentido que as pessoas que se elegem para defender os interesses de todos não expliquem detalhadamente por que razão se fecham poços se proíbe a livre utilização de água e se esconda a informação devida sobre as reservas naturais de água.
Ou que não se eduquem as pessoas de forma a saberem gerir os recursos naturais nas suas casas, jardins, ruas, vilas, cidades e países.
Sobretudo, não se fecha a torneira para as zonas verdes para criar ainda mais hostilidade climática e desequilíbrio.
Quando é que se começará a exigir dos governantes que liberem a água dos lençóis freáticos, que não é nem dos governos, nem das empresas que escolhem para os/nos explorar? Quando se exigirá que além de uma aposta maciça na educação, implementem mais zonas verdes em todo o lado, cisternas e outros sistemas de recolha e tratamento de águas, para benefício comum e imediato de todos?
Em vez de secarem propositadamente o planeta, a missão de qualquer governo é fazer tudo ao seu alcance para evitar a seca que nada mais é do que o reflexo de todos os abusos que se habituaram a cometer sobre pessoas e espaços comuns.
E se um governante faz questão de nos assustar sobre este tipo de calamidade, sem qualquer proposta concreta, então faz parte do problema e deve ser erradicado como qualquer seca, crise e malfeitoria que se abata sobre a cabeça de todos.
A água é um bem de todos e todas as medidas que isso contrariam devem ser encaradas como um crime grave contra a Humanidade. Haja vergonha e mais acção concreta para manter um equilíbrio que nos é devido.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

o inquilinato tonto

Biscaia by MMF
Vimos a este planeta como uma mão cheia de terra, que usamos até o abandonar. Aqui dependemos da nossa ligação a todos os elementos para sobreviver. Os nossos pulmões de nada servem sem as árvores e outras plantas, o nosso corpo não funciona sem água e comida. E quando nos vamos embora, essa mão cheia de terra regressa à Natureza, ao seu estado primordial.
Esquecemo-nos com frequência do que somos realmente e não nos chega o que temos todos os dias à nossa frente. Inventamos uma espécie que gostaríamos que fosse única e atribuímos-lhe uma personalidade que imaginamos mais atraente do que a matéria de que somos feitos.
Se os nossos primeiros antepassados tivessem um vislumbre do que somos agora ficariam estupefactos com a ficção em que se tornou a nossa vida. 
Ficariam incrédulos com a exploração da água e das fontes de energia, que são do planeta e para uso de todos os punhados de terra existentes, porque nunca foram de ninguém, nem poderão jamais ser. Tentariam chamar-nos à razão sobre os instintos de posse e os loucos conceitos de propriedade que desenvolvemos. Como podemos arrogar-nos esses atributos, se para começo de conversa só estamos aqui de empréstimo, por umas escassas dezenas de anos e para seguir depois viagem?
Como seria possível entenderem o inferno em que transformámos a nossa passagem pelo planeta, com leis e regulamentos cada vez mais intrincados e disparatados, por não terem em conta a verdadeira natureza da nossa estada aqui?
Que sentido poderia possivelmente fazer a educação que recebemos de nascença, de uma identidade cega para o nosso planeta hospedeiro e para com a sua abundância e generosidade, que desbaratamos com a alucinação das medíocres ideologias que vamos construindo à medida dos nossos pequeninos desejos de posse?
A Terra não tem problemas e sobreviverá a todos os atentados que nela cometemos. Quando tornarmos a nossa vida insustentável aqui, retomará tranquilamente o seu equilíbrio e aguardará novas visitas, sem medos tontos de aniquilações várias.
O planeta também tem a sua alma/ânima e não se sustenta de dúvidas existenciais. Essas ficam para os seus destituídos inquilinos ocasionais, com as suas fúteis pretensões de poder e domínio sobre a matéria.
Como pode alguém pretender dominar um planeta, se não consegue perceber que faz parte dele?

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

tédio, tédio, tédio

"Spiritual pollution tv" by Ashoka
Como se não bastasse a confrangedora exibição de estupidez de que se compõem os intermináveis anúncios publicitários dos dias de hoje -- a sério, acreditam realmente que os consumidores são tão estúpidos como os conteúdos com que supostamente os vão induzir a comprar mais? --, há ainda a completa gonia de passar de canal para canal e assistir a 99 por cento de filmes de teor policial, crimes e violência. Sem escolha possível, assinando nove ou mais de trezentos canais.
Sem falar da anormalidade de programas sobre futebol -- nenhuma outra modalidade tem direito a qualquer tipo de programa de interesse, a menos que sejam os Jogos Olímpicos e outros eventos com bastantes direitos de transmissão garantidos.
Que tipo de direcção de programação acredita realmente que está a prestar um bom serviço, público ou privado, alimentando este tipo de tédio mental? Que culpa têm as pessoas de que haja gente muito limitada a escolher os conteúdos de todos os canais de televisão? 
Com um pouco de sorte, alguém um dia se lembrará de sacudir o marasmo embrutecedor da televisão com apostas mais variadas e saudáveis, com vantagem para os consumidores e para os bolsos de quem acredita que merecem melhor.
A produção nacional segue, infelizmente, o mesmo caminho. Não por falta de criatividade das propostas, mas por completa cinzentice de quem decide e escolhe o que há-de ocupar os tempos de antena.
Para quem acredita que um cargo de direcção tem prestígio, é difícil entender como conseguem prestar-se a tanta medriocridade.


segunda-feira, 13 de novembro de 2017

cães selvagens na duna

Photo by Mafalda Mendes de Almeida

Começaram por ser abandonados na rua, os cães de grande porte que agora se refugiam na duna da Cresmina e se tornaram selvagens. Ainda hoje se avistaram dois, tranquilamente deitados ao sol.
O problema começa quando se junta uma matilha com pelo menos seis destes cães que se refugiam mos buracos e vegetação cerrada e buracos na faixa dunar que vai do Guincho à Costa da Guia, passando pela Quinta da Marinha.
São locais de lazer de que muita gente desfruta em passeios e visitas, sem suspeitar que a qualquer momento podem cruzar-se com estes animais que se habituaram a sobreviver sem a ajuda do homem. 
Passam a maior parte do tempo longe da vista dos humanos que, inicialmente, os acolheram nas suas casas e depois traíram a sua confiança largando-os na rua, quando deixaram de ter graça e a exigir mais do que os seus irresponsáveis "donos" acham que eles merecem.
Transformam-se assim em cães "selvagens", juntos numa matilha que por vezes assusta e ameaça quem caminha pelo passadiço.
Há meses que se alertam os rangers da Cresmina para a sua presença e se espera que uma equipa de resgate da Fundação Francisco de Assis consiga apanhá-los.
Com um bocado de sorte, evitarão os seres humanos de que aprenderam a desconfiar e, se tudo correr bem, ninguém terá de os enfrentar numa situação mais extrema.
Ficam as óbvias perguntas: não haverá mais a fazer do que aguardar que uma equipa de resgate consiga deitar a mão a estes cães? E que lhes acontecerá depois de serem "resgatados"? Estarão tomadas todas as medidas e cautelas para prevenir encontros indesejados com estes animais que também são vítimas involuntárias dos caprichos humanos?