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domingo, 3 de junho de 2018

padrões e inteligência


A inteligência dos padrões é frequentemente subestimada. A sua beleza é evidente, mas poucos se interrogam sobre as razões que levam à atracção que provocam. A resposta é simples, embora descartada pela maior parte das pessoas que observam esse tipo de manifestações.
Os padrões são atraentes porque evidenciam a nossa capacidade de perceber que a repetição não é casual. Ocorre porque há ligações a perceber na manifestação de fenómenos semelhantes. São sinais de que há coisas a perceber. Há consciência a desenvolver em torno do que se repete e conclusões a tirar que expandem a nossa percepção.
A beleza dos padrões é essa sensação de coisas que fazem sentido sem que apliquemos mais esforço nisso, senão o do simples reconhecimento da sua existência e das possibilidades que se multiplicam a partir do momento que se observam.
Casar conscientemente a inteligência e a beleza em formas destas é uma pista valiosa para quem gosta de investir tempo a descobrir e a entender. Acrescenta sempre alguma coisa ao sentido que se busca para a existência. 
É uma revelação sem fim que traz luz, conhecimento e apreciação por esta forma de ver o mundo.

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

recomeço

foto MMF 2016

Se ao menos todos os dias me lembrar que recomeço. Numa lembrança singular, sem mais memória. Porque a memória é uma espécie de arquivo geral sem discriminação e sem outro uso que o da culpa, como se fosse possível arcar com mais responsabilidade do que a dos efeitos resultantes de todas irresponsabilidades passadas.
Sofrendo os efeitos expiamos esses actos insensatos, arrumamos o processo. É importante entender que, expiado o passado, não devemos manter-nos lá e sim começar de fresco, todos os dias. Com um nascer do Sol, efeito aleluia, infusão de alegria logo pela manhã.
Recomeço sem pesos, sem nada. Nem expectativas fúteis, pois qualquer possibilidade, aceite assim sem pré-conceitos, sem os limites da memória ou as pretensões da imaginação por ela limitada, se torna mais extraordinária do que os julgamentos crêem ser possível.
Nada de listas, nada de planos. Apenas a aceitação do verdadeiro potencial de cada dia. Sem o azedume das memórias paralizantes, ou aquilo a que chamamos imaginação e não é senão o desespero da projecção de todas esperanças num futuro improvável.
Porque se nos deixamos entalar entre a memória e esse futuro imaginado, perdemos a única ferramenta capaz de alterar a realidade: o recomeço no presente, a acção agora, que estabelece as causas a moldar os efeitos a seguir.
A memória abafa o presente e a acção, a capacidade de reconhecer e confiar no potencial de fazer acontecer. É uma riqueza mesquinha que achamos muito preciosa e, afinal, são pesos que nos prendem a sítios e situações que já se deram e nos impedem de avançar e observar que há realmente outra forma de ver e de viver.
Por isso recomeço todos os dias, ou em qualquer momento, com uma confiança total em tudo o que ainda há para viver e criar. O desespero só acontece na prisão da memória. A fé é a cofiança de que há muito mais do que experiências passadas, se ao menos permitirmos e aceitarmos que há toda uma variedade de novas experiências que podemos escolher e ter a partir de agora.
É isso viver no presente, carpe diem e o tal salto de fé, que afinal não é cega, mas sim um sinal de inteligência pragmática e muito bem orientada.