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quarta-feira, 27 de maio de 2020

maio, mulheres e vermelhos

"Starry  Women" by MMF

Maio é para as mulheres. O mês vermelho assenta-lhes que nem uma luva. Embora Março, o mês da guerra, queira monopolizar a cor. Maio é vermelho e das mulheres, definitivamente. Também é o mês das rosas que, como se sabe, tinham um trato com Isabel, a Rainha Santa, quando era preciso disfarçar o pão que seguia para os mais esfomeados.
Há sempre uma história de mulheres quando se fala no vermelho. Não precisa de ser vermelho-sangue, porque isso apela ao que pode haver de pior em qualquer um de nós. No meu caso, imaginá-lo ou vê-lo é suficiente para me desligar a consciência, mesmo em circunstâncias em que os olhos teimem em manter-se abertos.
Do lado masculino a apetência pelo vermelho fica-se essencialmente por gravatas, sapatos e uniformes desportivos. Acolhem muitíssimo melhor os pretos, cinzentos e azuis escuros com que se pavoneiam como se fossem uma força de elite, naturalmente promovidos pela farda das suas vidas.
Para as mulheres qualquer vermelho serve, sobretudo em Maio, altura em que a pujança da cor anima a vida para o resto do ano. O Maio da Maya não deixa os seus créditos nas mãos de outros. Viva Maio, o vermelho e as mulheres.
Já o mar da mesma cor é, normalmente muito mais da cor das grandes massas de água. O que é uma pena porque dá gozo imaginá-lo como um depósito de gelatina de morango com propriedades misteriosas e agradáveis, além de ser possível associar-lhe um aroma frutado.
O vermelho dos vinhos é outra conversa. Além da cor, o álcool adiciona mais uns pontos ao capítulo da energia, embora seja depois necessário compensá-lo com muita água e ainda mais juízo. Juízo esse que não se aplica a crenças por provar como as das luas vermelhas, a irritação dos touros quando vêem uma cor que de facto parece não ser por eles reconhecida.
Os magos também gostam dos forros vermelhos onde, em combinação com o negro, é fácil ocultar o que não deve ser visto. Será que a Rainha Santa recorreu A uma artimanha semelhante? Porque, como mulher, era senhora para isso, com toda a certeza.
De qualquer forma, quando se sentirem desanimados, pensem em vermelhos e, se possível, em tomar um copinho de néctar vermelho. Ou bailarinas de flamengo vestidas a rigor.  Flores de Natal?

quinta-feira, 25 de abril de 2019

não se fazem revoluções sem mulheres

"Women in flying colors" by MMF
Só para começar, não se fazem revoluções sem mulheres. Muito menos quando os seus nomes e os seus actos não se mencionam, como se não importassem ou nem sequer existissem.
Não se fazem revoluções verdadeiras quando se ignora uma metade da humanidade. O que é, literalmente, desumano. Não se fazem revoluções verdadeiras, pelo menos. Faz-se de conta, com umas pitadas de mudança, mas sem ir ao fundo do tacho. Não vão vir ao de cima as verdadeiras questões que poderão estar na origem de uma revolução digna desse nome.
O verdadeiro poder é subtil. Não esmaga, nem deita abaixo. Não é uma questão de força. É só transformação. É pessoal. Não se ilude com massas, mas com a capacidade individual.
Por isso, mais uma vez, não se fazem revoluções sem mulheres. E nada vai acontecer enquanto não armarem as mulheres com as mesmas capacidades que entretanto se veneram: a força, a afirmação material de que podem ao mesmo nível que as suas contrapartes masculinas. 
Porque, infelizmente, ainda é a esse nível que opera metade da Humanidade. É no poder físico e talvez seja mesmo necessário equipar as mulheres com esse tipo de perícia para que o respeito por elas finalmente se manifeste.
Enquanto as nossas filhas não aprenderem, de pequeninas, a defender-se da força bruta, nenhuma revolução vai ter um efeito visível na sua condição de seres à mercê de outros. Enquanto não as enchermos de técnicas de domínio, que parece ser a única linguagem cuja simplicidade está ao alcance dos meninos, nenhuma revolução provocará alguma mudança significativa.
Portanto, só para começar, vamos celebrar este dia com este conceito revolucionário: não se fazem revoluções sem mulheres. Uma ideia é uma semente. Deixeimos crescer e florir estas. E podem ser cravos ou rosas, desde que sejam para as mulheres fazerem a sua revolução.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

mais saias

"saias II" by MMF
Ainda sobre saias, que são sempre peças elegantes, mesmo nas suas versões menores, o problema é este não ser, as mais das vezes, um mundo elegante. Há quem marche contra o seu fru-fru natural, contra a leveza com que ondulam e parecem sopesar todas as coisas. É como ver uma borboleta e, num impulso, lançar-lhe uma rede e espetá-la com um alfinete num quadro para mostrar como são lindas. 
Ó gente da minha terra, agora é que eu percebi...

sexta-feira, 27 de março de 2015

Artemisia Gentileschi: uma história de grande actualidade



Num meio dominado por homens, a pintora Artemisia Gentileschi teve de provar a sua inocência como vítima de violação por parte de um pintor contratado pelo pai para lhe dar aulas. Uma história de grande actualidade, visto que apenas uma ínfima percentagem de mulheres consegue, nos dias de hoje, ver os seus direitos plenamente reconhecidos. E em que o feminismo é um termo ainda vergonhoso para qualquer dos géneros, especialmente para o feminino. A obra de Artemisia Gentileschi deixa antever toda a revolta que deve ter sentido e os seus fantásticos dotes artísticos.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

foi Adão que mordeu a maçã...

Que se passa realmente quando alguém acha que outra pessoa deve gostar de se sentir assediada, insultada, ameaçada e desrespeitada? O que faz alguém sair de um lugar do mundo onde não tem liberdade para ir para outro local onde ela existe e aí pode, por seu turno, ameaçar a liberdade dos outros? E o que fazem os que não concordam com isso?


Documentário de Sofie Peeters sobre o assédio às mulheres nas ruas de Bruxelas.
E o que ganha um ser humano com a sua falta de respeito para com os outros? O mesmo, basicamente. Fazendo vítimas, escolhe para si idêntico papel. O que os homens fazem às mulheres é, infelizmente, uma afirmação de como se sentem: frágeis e permeáveis a todas as tentações. Acho que foi Adão que mordeu a maçã e não o contrário.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

atirar a democracia contra si própria


Parecendo até uma medida extremista, esta de tentar a proibição do uso da burka em toda a Europa, por atentar contra os direitos de indivíduos de outros credos que não os cristãos, merece no entanto alguma ponderação.
É que a Europa, com os seus não muito antigos direitos e liberdades adquiridos, já está a braços com algumas das consequências do reconhecimento desses mesmos direitos. Na maioria dos países com uma larga imigração oriunda de países islâmicos, por exemplo, as liberdades e direitos dos cidadãos permitem que os estrangeiros se estabeleçam e se integrem, fazendo mesmo parte dos órgãos locais de governo e decisão.
O que começa então a acontecer? A influência dessas comunidades começa a exercer-se no sentido de restringir certos direitos e liberdades dos indivíduos e é claro que as mulheres e os seus ainda frágeis direitos são as primeiras atingidas.
Ou seja, as liberdades servem para alguns indivíduos limitarem essas mesmas liberdades, visto que o peso das comunidades estrangeiras a nível de governo local ameaça desequilibrar o fiel da balança.
A tentativa da proibição do uso da burka é apenas a ponta do icebergue. Há muito mais do que parece por detrás de um simples véu. E não são apenas os véus muçulmanos que tentam abanar o edifício dos direitos e liberdades. Há muitos outros grupos religiosos, cristãos e nem por isso, que estão muito activos e que também usam com exímia as leis dos países europeus em seu proveito.
Há muito tempo que os líderes religiosos exploram a fraqueza do exercício democrático, virando-o contra si próprio. E se as democracias resolverem fincar o pé e legislar contra determinados direitos fundamentais por causa dos abusos, incorrem no risco de abrir precedentes para outras restrições.
Ora, o que eu gostava era de ver um homem de leis chegar-se à frente e explicar que o universo do direito também está a evoluir e que é possível encontrar sistemas que sirvam a liberdade sem ferir o que é fundamental para o indivíduo.
E talvez, por arrasto, se tenha a sorte de conseguir que um punhado de jornalistas desista de fazer manchetes com lugares comuns e encha os títulos dos noticiários de frases bem formuladas, que além de bons títulos e boa propaganda, sirvam para levantar e debater as verdadeiras questões.