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terça-feira, 23 de outubro de 2018

anjos como nós

'secret keepers' - 2012 (watercolor)
Há anjos como nós, que de vez em quando se cruzam no nosso caminho e nos enchem de sinais e sensações que nos são familiares e estranhos ao mesmo tempo. Ou é o tempo dos anjos que se mistura com o nosso e parece então que fica fora do lugar ou da sequência que lhe damos habitualmente.
Há anjos que só nos aparecem para correcções de rota, por instantes, para voltarem a pôr-nos no caminho certo. Outros que nos acompanham a vida inteira e nem sequer se fazem especialmente notados. E ainda uns que nos arrebatam como se nada mais no mundo importasse.
Agrada-me muito esta ideia de viver num mundo de anjos que surgem como lufadas de ar fresco, ondas poderosas ou rios de emoções e sensações em que é obrigatório mergulhar e disfrutar para entender o verdadeiro sentido da vida.
Como anjos, cada um de nós faz parte dessa dança encantada em que o mundo se transforma quando nos deixamos levar por coisas boas e entusiasmos vários. Por coisas que lamentamos muito quando deixamos fugir, sem nos apercebermos que elas voltam, talvez com outras roupagens, mas sempre com a clara intenção de nos obrigarem a reflectir e a viver qualquer coisa importante.
É muito agradável manter uma saudável consciência de sermos anjos que se dão com outros anjos. Mesmo sem asas ou poses celestiais. Apenas com uma honesta vontade de participar de uma visão angelical de todas as coisas.

terça-feira, 1 de agosto de 2017

estrelas cadentes

Imagem daqui


Tenho visto pelo menos uma estrela cadente todas as noites. Nunca vi uma estrela cadente, disse-me alguém há um par de dias. Pensei em responder que é preciso olhar para cima à noite, mas era uma conversa que estávamos a ter e às tantas temos de decidir entre olhar directamente para quem temos à frente ou olhar para cima e ver estrelas cadentes.
Noutras ocasiões alguém demonstrou com entusiasmo a minha boa fortuna por ver uma estrela cadente. Como se fosse um sinal dos céus. Acontece que as estrelas cadentes não são sequer estrelas e o céu em que brilham é apenas o limite da atmosfera em que se desfazem com o atrito. Está bem... São pedacinhos de céu também.
Cadente é uma palavra muito final. Adequada, no entanto, à sensação que fica quando a luzinha desaparece, após um instante de brilho. Também não desaparece de verdade, apenas se transforma. Mas como qualquer outro fenómeno ou manifestação, é uma oportunidade breve que se vai em fracções de segundo.
Tudo ao contrário da eternidade, com a sua enunciada paz e perenidade. Ou é apenas um desejo colectivo de que a estabilidade exista, numa qualquer forma concreta? Num universo em que tudo está em permanente mudança e qualquer detalhe imprevisto abre de imediato infindas possibilidades? 
De onde vem essa loucura colectiva que nos incita a procurar a estabilidade a qualquer custo, num universo de estrelas cadentes, em que a única coisa permanente é a mudança?