segunda-feira, 19 de março de 2018

pai, filho e espírito santo

"Pai" by Paulo Paz


A velocidade dos desejos pessoais aumentou dramaticamente. Talvez porque a efemeridade de tudo está cada vez mais presente e visível nas nossas vidas. Não é como o fast food a substituir as longas jornadas do ser humano para alimentar o corpo físico. Mas é uma premência muito clara sobre as nossas necessidades reais. Haja tempo para entender que a rapidez aqui tem que ver com a obrigatoriedade de evoluirmos para dimensões mais modernas da nossa existência.

"Filho" by Paulo Paz
Estamos habituados a uma linguagem linear, a ir de a para z, do preto ao branco, do menos para o mais. No entanto, se quisermos sobrepor todas essas premissas e multiplicá-las tantas vezes quantas nos apetecer e nos lembrar-nos, explorando cada grau de cada uma delas, e ainda considerar que todos podemos fazer o mesmo, apercebemo-nos da complexidade que rege a nossa realidade. Somos uma multidão a decidir a todo o instante sobre os caminhos da nossa vida. A maior parte do tempo, irados e frustrados pela insuficiência da nossa vontade em se sobrepor às demais. A presunção da nossa divindade, moldada pelo defeituoso conceito da unicidade que praticamos, dá cabo da nossa paciência. Custa-nos substituir a nossa omnipotência de deusinhos tiranos pela mais democrática ideia de peças interligadas do puzzle divino que exige cooperação para se manifestar plenamente.

"Espírito Santo" by Paulo Paz
No final tudo se resume à rendição a uma sabedoria maior, ao espírito livre de todos os pré-conceitos do que somos, individualmente e livre de todos os limites de grupos, clubes e associações que nada mais são do que frágeis imitações do puzzle maior a que pertencemos. Na liberdade que nos cabe para nos ligarmos a esse espírito maior, que partilhamos de facto, está o nosso poder. Apenas aí reside a chave de toda a realidade, sem limites, sem mal-entendidos.

quarta-feira, 14 de março de 2018

escolas livres de excessos


Quando se mexe nos contratos de fornecimento de refeições as escolas, o ideal era mesmo ter a coragem de eliminar, pura e simplesmente, os alimentos que prejudicam a saúde física e mental das crianças e dos jovens.
Estando provado que os refrigerantes, açúcares, fritos e alimentos excessivamente processados, o que raio faltará para que se assuma a necessidade de, nas escolas se proibir o consumo de bebidas e alimentos nocivos à saúde?
Será que o interesse das grandes empresas de sobrepõe com vantagens a um défice de desempenho escolar e a um futuro de maus hábitos, doenças e tratamentos ruinosos?
É uma vergonha, ou muita falta dela, que governantes que se afirmam conscienciosos e defensores do interesse maior dos cidadãos, não se comprometam definitivamente com a saúde e bem-estar dos mais novos, assegurando-lhes um futuro bem mais risonho e promissor.
Isto, claramente, sem prejuízo do livre consumo de toda a sorte de alimentos por adultos informados e apreciadores de açucares e de outras substâncias e paladares universalmente apreciados pelos bons garfos.
Mas não é deliciosamente aliciante pensar em novas gerações de crianças e jovens saudáveis e bem dispostos, com clara consciência de que a ingestão de alimentos menos adequados também é possível dentro de parâmetros mais adequados?
A educação também deve oferecer uma disciplina mais coerente e benéfica para os hábitos pessoais, orientando jovens e pais para uma maior consciência e melhores práticas em relação aos cuidados de saúde física e mental.
Eliminar excessos indesejados das cantinas escolares é uma medida semelhante à proibição de substâncias como o álcool e o tabaco. A indústria alimentar devia ser igualmente disciplinada para orientar a sua oferta adequadamente para as diversas faixas etárias e de acordo com a actual consciência de práticas nocivas à saúde.

sexta-feira, 9 de março de 2018

a liberdade do amor



Falemos hoje de amor. Não a baboseira romântica construída a partir dos contos de fadas ou do felizes para sempre. Ou da fragilidade que nos leva a procurar no outro uma metade, em vez de o entender como uma das muitas peças de um puzzle que continuamos a ignorar e a adiar como uma visão mais realista das nossas relações.
O que procuramos nos outros é uma partilha, uma comunhão, a confirmação de que fazemos parte de um todo indissolúvel. O que habitualmente estraga essa partilha de pares ou mesmo de grupos é a falta de consciência de que, na verdade, ninguém é dispensável no conjunto pela simples razão da riqueza que traz para cada um dos outros. No entanto, a ilusão criada pelo marketing dos amores e dos clubismos exploradores dos limites discriminatórios, tudo reduz a um campo minado de desilusões e fasquias impossíveis.
O amor destas linhas pertence a uma outra esfera. A da dimensão do que nos faz sentir bem, que nos enche de felicidade e esperança. É uma forma de estar que todos os dias sofre duros golpes face aos desinteressantes preconceitos associados ao que nos vendem como amor.
Falamos de escolhas que nos afastam do medo, da paralisação de imaginar o pior e não agir sobre o nosso acertado instinto. De perceber que os outros só nos ameaçam porque nos deixamos levar por todas as parvoíces que também nos martelam a cabeça.
Este amor é a coragem de agir, de acreditar que há sempre uma outra forma de ver as coisas e que, experimentando-a, se multiplicam as nossas hipóteses de acertar e colher os frutos de coisas diferentes.
Hoje, a escolha é a do conhecimento, a desse amor-consciência que nos energiza e transforma a nossa condição de bichinhos assustados na versão, muito mais interessante, de criaturas capazes de viver mais livremente o seu verdadeiro potencial.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

aos encontrões na luz

foto MMF
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Nem oito, nem oitenta. Nem toda a gente é completamente má, nem completamente boa. Vivemos de luz e escuridão, mas isso também não quer dizer que se saiba exactamente o que se anda a fazer. Às vezes, na sombra até nos orientamos e a maior parte das vezes, na mais completa luz, parecemos uns carrinhos de choque aos encontrões uns aos outros.
Outras vezes as coisas passam-se à nossa frente e não queremos meter-nos, julgando que assumimos assim uma posição de neutralidade. Nada mais errado. Porque uma decisão é uma acção e, neste caso, deixamo-nos nas mãos das decisões de todos os outros. Isto porque, fazendo parte de um todo em que as decisões determinam os resultados, e são um efeito imparável, a nossa neutralidade determina apenas que são as acções dos outros que vão moldar esse efeito, não as nossas.
A Terra e tudo o que nela existe, incluindo a pretensiosa Humanidade, é um todo em constante movimento e evolução, determinada pelas acções e decisões de tudo e todos. A neutralidade é uma ficção que apenas permite que as tomadas de posição dos outros definam o rumo das nossas vidas.
Na verdade, quando nos recusamos a decidir é como se estivéssemos convencidos que podemos manter-nos no meio do turbilhão da corrente sem sofrer os seus efeitos.
A cada um o seu tipo de masoquismo preferido, pois até isso é perfeitamente natural e defensável, ou não seria o que nos esforçamos tanto por fazer a todo o instante.
E o que é que acontece quando tomamos consciência disso? A maioria dos alemães acreditou piamente que não se manifestando contra as acções dos nazis a sua consciência estava salvaguardada. Isso modificou a qualidade dos resultados que vitimaram milhões de pessoas por todo o lado?
Quando as pessoas afirmam que não se metem em política, quando não vão votar, quando não assistem às sessões públicas dos seus órgãos de poder local, não se informam sobre as deliberações que vão determinar o lixo que têm à porta de casa, os impostos que pagam para não terem onde estacionar sem pagar, onde se tratar em condições dignas ou como deixam de poder ver a beleza natural da terra onde vivem porque alguém decidiu ganhar dinheiro com bolhas imobiliárias. Quando acreditam que nada disso lhes interessa ou contribui para a sua felicidade, os resultados são os que aparecem nos seus sonhos?
Acreditam sinceramente que vão poder respirar com a cabeça enterrada na areia? Acreditam que o facto de sonharem acordados é suficiente para alcançar o paraíso?
Boa sorte. Viver como escolhos arrastados pelas tempestades deve ser, realmente, o Eldorado da Humanidade.