quarta-feira, 23 de setembro de 2009

é assim



Se um dia tivesse de explicar o que me vai por dentro, seria esta a imagem que escolheria. Tirada em Ourense, num cantinho da cidade que homenageia os heróis de ficção das histórias infantis, BD e outros géneros relacionados.
Para vós seria então uma criatura como esta, absorta em sons e voos, mesmo no centro de uma cidade.
Parece deslocada e, ao mesmo tempo, não o está. Porque, para mim, essa é a beleza de tudo: a capacidade de apreciar até a estranheza.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Podemos ter calma?



Assim só a modos de apanhado: a igreja cientologista cria uniformes para os seus fiéis usando como modelo o estilo de Tom Cruise e Kate Holmes (link). Que excitação!
Na mesma onda: o assédio das religiões a tudo e a todos. Além do monopólio de Deus, pastores e imãs acham intolerável ter gente sem crença a viver no mesmo bairro, na mesma cidade, no mesmo país ou no mesmo planeta.
É assim como descobrir que o ioga (leia iÔga, senhor descrente!) é a insuspeitada cura para todas as maleitas.
Ah... Afinal o mundo é muita simples e nós e que teimamos em o complicar.
Por exemplo, a minha complicação passa por não me apetecer ser assediada por coisa nenhuma. Por preguiça de assediar seja quem for, seja para o que for. Mea culpa, sim. Não sou exemplo para ninguém e também não me sinto bem no papel de role model.
Haverá forma de me deixarem estar em paz e sossego com os meus ciclos viciosos mentais e existenciais? Posso não ter de os confessar nem em igrejas, nem em consultórios?
Safa... Isto de nos estarem sempre a tentar impôr qualquer modita é cansativo.
É como a obscena proactividade, que nos obriga a manter um desnecessário stress em qualquer trabalho, sob pena de nos desconsiderarem como inadequados para uma qualquer equipa que só lá está porque agora também é moda transformar tudo em equipa.
O stress mata e a envangelização também já provou ser mais do que perigosa ao longo de todas as épocas. Podemos ter calma?

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Diário de rotinas...



Manhã: pôr a Kahlu na areia, enfiar-lhe um comprimido à força de esgatanhadelas, 25 movimentos por cada articulação das patas traseiras, mais umas dentadas, outro comprimido pela goela abaixo, mudança rápida da gaiola e voltar a colocá-la lá dentro. Ajudá-la a chegar à comida e à água. Tarde: o mesmo, sem os comprimidos. Noite: o mesmo, sem os comprimidos.
Único contra: ela não vai poder retribuir a fisioterapia, que nos rebenta com as costas. Quem diria que três quilos de gata são tão pesados?
É o que dá ter uma rebelde páraquedista encafuada num quarto andar e a sonhar com altos voos.

sábado, 15 de agosto de 2009

60 anos de Noddy

Ainda sou do tempo em que o Noddy era um boneco de madeira criado pela senhora Enid Blyton, num livro que chegou no caixote de publicações que chegava todos os meses lá a casa, vindo de uma livraria da Beira.
O livro explicava como o boneco, na Terra dos Brinquedos e com a assistência de outros bonecos, arranja uma mola para segurar a cabeça ao corpo e como, depois, com um lenço amarelo com pintas vermelhas, tapa a mola. A cabeça abana para trás e para a frente (nodd) como se estivesse sempre a dizer sim.
Também conta como, com peças de outros brinquedos, o pequeno Noddy constrói a sua casa, que agora vem já montada para as prateleiras do Toy's R Us.
Na altura em que o li pela primeira vez, o boneco já tinha quase vinte anos de idade e continuava a entusiasmar leitores de palmo e meio.
A seguir vieram os livros da colecção 'Os Cinco' e 'Os Sete', mais os da 'Uma Aventura...'. Também gostava da série juvenil de Alfred Hitchcok, com os seus três jovens detectives sempre dispostos a resolver um mistério.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Quem não se fica...


Força, imaginação, rebeldia, dramatismo, cor, técnica. Jamais deixam de me espantar estas provas de criatividade generosamente debitadas pela rua. Matosinhos, Escola Secundária.

Meu, estava aqui a ver o mundo passar e de repente stressei, assim, totalmente. Só me apeteceu agarrar na pele da cara e puxá-la para cima, a mostrar o meu verdadeiro eu, topas? A coisa tribal de três olhos, corpo híbrido de techno-andróide-grafitado. É assim, meu, quem não se fica é como a gente.
Posted by Picasa

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

são mais do que as pegadas



















Sento-me ali, ao fim da tarde e tento ouvir os milhares de converas cruzadas que se desenrolaram na praia o dia inteiro, as saudações, as confissões, as saídas intempestivas, as zangas, os namoros, o som dos mp3, da rádio e das vozes nos telemóveis. São mais do que as pegadas que ficam na areia.

sábado, 1 de agosto de 2009

o significado da mensagem



















É engraçado observar como o contexto das mensagens se modificam ou se 'enriquecem' adicionados a elementos mais ou menos inesperados.
Elisa Ferreira não estava, com certeza, à espera que a sua imagem/mensagem de campanha validasse, da forma mostrada na foto, o vigor dos writers tripeiros.
O 'Porto para todos' inclui agora com o alto patrocínio da candidata socialista à edilidade, os criativos artistas de rua que devotam os seus dias a encher de cores e arte as paredes e as ruas da Invicta.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

heróis e nevoeiros



















O nevoeiro às portas do Porto. Aquela coisa misteriosa dos céus encobertos que até nos fizeram sonhar com um Sebastião diferente, desses que avançam à força da espada e nos resgatam de todos os males. O nosso quase-super-homem português, desses que a qualquer hora se podem materializar e dar corpo aos sonhos. Os mesmos que em terras lusas se desprezam a menos que venham de sebastiões, fantasmas ou mortos, que esses não fazem sombra a ninguém e já podem andar por aí livres a lembrar-nos as enormíssimas realizações que poderiam ter cometido se lhes tivessem, generosamente, emprestado algum crédito. O mistério é uma coisa muito bonita e poderosa, até porque não tem nada que ver com a realidade, por isso pode potenciar qualquer coisa sem grande interferência nos comodismos instalados. Ainda estou para perceber como é que esta gente levantou o traseiro do banco para ir por aí à descoberta de novos mundos, com o pavor atávico que tem da aventura. Tem de haver coisa nessa história...

terça-feira, 28 de julho de 2009

universo



















Jamais diria que o Universo foi feito à imagem e semelhança do tecto deste salão de beleza no Cidade do Porto.
Também estão a ver os OVNI? Estou tão emocionada...

sábado, 27 de junho de 2009

a alice de burton



Nunca foi uma das minhas histórias preferidas. Em criança, achava que todos os personagens eram simplesmente ameaçadores e que a Alice estava a ter um pesadelo em vez de aventuras. Os personagens tinham traços de maldade que me desagradavam. A minha opinião não mudou muito desde essa altura. Não seria jamais um livro que oferecesse a uma criança.
Agora surge este filme do Tim Burton, com um cenário realmente fantástico (ver aqui) e não tenciono perder. Afinal, há quem a veja também não como uma história para crianças, mas sim de terror. Estou aliviada. Não me enganei nas primeiras impressões.
É uma produção Disney com Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Matt Lucas,Anne Hathaway, a voz de Michael Sheen para o coelho e provavelmente Ryan Nicole Parker no papel de Alice.

sábado, 6 de junho de 2009

um coração cheio de reais



As editoras portuguesas estão amuadas com as suas congéneres brasileiras que andam a comprar os direitos de obras em língua portuguesa para todo o mundo e assim as impedem de editar autores em Portugal, deixando os leitores interessados entregues às edições em português do Brasil. (Ver aqui)
A culpa, dizem, é do acordo ortográfico. Que julgavam? Que os brasileiros se deram ao trabalho de dinamizar a aprovação do dito porque gostam do sotaque? Os corações verdes e amarelos pensaram foi nos reais. E o resto é ingenuidade e amuo que só nos faz perder mais tempo.
Durante mais de trinta anos não houve a mínima preocupação em pensar numa estratégia que permitisse investir também no mercado dos PALOP. Não houve capacidade para pôr aos cinco livros de cada vez à venda nas principais cidades dos territórios que já foram portugueses. Mas os armazéns das editoras estão cheios de sobras de muitas edições, cujo caminho provável é a venda ao quilo, para a reciclagem.
Em vez de comprarem os direitos para a língua portuguesa no mundo, bastavam-lhes os direitos para aqui, a pensar nas dificuldades que haveria em entrar no mercado brasileiro e ignorando as ex-colónias portuguesas, mesmo após as boas intenções criadas com a CPLP.
A poupança tem as suas desvantagens, assim como a preguiça de pensar um pouco além do nosso quintal.
Não muda nada, é claro, porque o que fazem os editores brasileiros podem fazer os portugueses. Podem alegar que o mercado é muito maior, que já há muitos editores com sotaque, etc. Mas também há dificuldades económicas muito maiores do que cá e, no entanto, multiplicam-se em iniciativas e ganham terreno onde por cá nem se tenta.
Os brasileiros pensaram no mercado de Moçambique e de Angola? Também os espanhóis, os franceses, os chineses e todos quantos possam chegar lá. Vamos entrar no jogo ou vamos ficar a chorar no canto, amuados como meninos mimados e habituados a chantagens emocionais?

sexta-feira, 29 de maio de 2009

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Questões que me ponho

Vamos supor que sorrio num sonho e que, ao acordar, não me recordo do que provoou o meu sorriso. Estarei a esconder de mim a minha felicidade ou apenas a ignorar esse importante ingrediente na minha vida consciente? E será que isso importa? Será que é mesmo necessário lembrar-me do que me faz sorrir enquanto sonho? Mais forte do que eu, surge o sorriso ao pensar nestas questões que me ponho...

terça-feira, 12 de maio de 2009

às vezes também sonho



Às vezes também sonho e não me apetece que venham cá espiolhar o que vou sonhando. Enrolada no meu sonho, não admito estranhos nem interferências, outros rumos para um sonho que é só meu. Por isso vão andando, desamparem-me a loja que neste sonho mando eu.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

dentro de nós

Dentro de nós passam-se coisas que só nós conhecemos. Há tempestades, revoluções, heroísmos e cobardias que gozam de autonomia própria, insensíveis à nossa lucidez e vontade.
Cá dentro vai um conjunto de vidas que não a nossa, uma saga interminável de aventuras que não temos tempo para viver em consciência e em tempo útil.
Em vez do reconhecimento dessa singular condição, somos formatados para a ignorar enquanto acordados e conscientes, tornando o conhecimento desse facto numa espécie de limbo de sinal proibido.
Receamos o confronto dessas vidas e tumultos com os dos outros e obedecemos a imposições exteriores do que parece ou não bem. Minamos a vida interior que cá dentro pulsa com uma energia desmedida em função de compromissos vários, sem coragem para assumir que há muito que não vale a pena reprimir sob pena de nos esmagarmos em conflitos sem sentido.
Falta-nos uma escola que nos ensine a gerir as nossas vidas, em vez da opção de não as gerir de todo em nome de uma linearidade imposta que nos mediocrariza.
Pior ainda, impomos aos outros a mesma medida, julgando as suas outras vidas como uma espécie de insanidade intolerável, quando de facto nos revemos e tememos nela.
Dentro de nós temos asas e felicidades inúmeras, que sufocamos todos os dias por incapacidade de as associar à realidade colectiva. Reprimimos a melhor parte dos nossos impulsos pela norma contra a qual nos revoltamos, mas que acatamos por receio de injustos julgamentos que generosamente também distribuimos.
Perdido algures entre o que sentimos e vivemos, fica um meio termo capaz de nos oferecer uma imensa felicidade, tivéssemos apenas um grão de coragem para o assumir.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

palavras

Volto às palavras, ao encanto e às possibilidades que proporcionam. Fechar os olhos e ouvir, vindas do nada, palavras ao acaso, rumores de nuvens que viajam à solta pelos pensamentos.
Haverá coisa mais adequada que parar para escutar as palavras que se emaranham dentro de nós, num atropelo saudável para se manifestarem?

sábado, 31 de janeiro de 2009

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

a vida segundo muñoz



Passeando pela retrospectiva de Juan Muñoz em Serralves como num universo paralelo, podemos apanhar-nos a espreitar momentos que não nos pertencem, mas em que reconhecemos sensações familiares.
Há a agonia das figuras suspensas pela boca e em constante movimento sobre si próprias, abandonadas à impotência perante um mundo que não se domina. E um momento de harmonia libertadora sugerido pelo mesmo movimento que, pela sua inevitabilidade, ilustra a sujeição de tudo e todos a um ritmo universal.
Junto à janela, as figuras com a metade inferior resumida a um saco informe e imobilizador, a lembrar os pesadelos infantis em que o pânico nos assalta e não logramos vencer o peso que nos prende ao mesmo sítio. No entanto, as esculturas inclinadas e de rostos quase inexpressivos ordenam-se num peculiar instantâneo de acções que não chega a desenrolar-se. A janela aberta sobre o jardim dá-lhes um sentido adicional nesta mostra.
Uma pequena multidão de homens cinzentos, rostos sorridentes e idênticos, remete-nos ao uniformidade do colectivo, às pequenas perdas momentâneas de individualidade. O que se altera de imediato quando as observamos de cima e tomamos consciência do papel único de observadores, benesse conferida pela organização do espaço da exposição.
Continuamos a espreitar por buracos de fechaduras ao ouvir repetidamente um diálogo em frente a duas pequenas figuras sentadas lado a lado, viradas para a parede ou sentadas em círculo com tambores de silicone à maneira de extensões dos corpos, armários povoados de objectos e pequenas esculturas, navalhas de ponta em mola escondidas em corrimões.