quarta-feira, 18 de maio de 2011

faz diferença

foto MMFerreira
Podia fazer como os outros e deixar-me estar. Ficar mais contente em produzir uma vitrina vistosa ou um ramo de flores de aparência exuberante. Mesmo que seja capaz de fazer essas coisas e outras com muito bons resultados, não é o que me apetece. Não é aquilo que vem de dentro e me empurra. Até de olhos vendados saberia o que esse empurrão significa e onde me dirigir. Sei que o meu objectivo está na teia das coisas e na descrição da sua beleza. É aí que quero chegar e estar.

terça-feira, 19 de abril de 2011

rios e espelhos

Foto MMFerreira
Toda a vida devia ver-se assim, como um rio, sempre diferente, sempre em movimento, a espelhar as coisas de uma forma que não é verdadeiramente a delas, mas que marca definitivamente a nossa forma de as olhar. Se ao menos fossemos capazes de nos lembrar sempre disso...

sábado, 16 de abril de 2011

a mão do caos e da ordem

Foto MMFerreira
 Os artistas não nascem para ser bem educados, portar-se bem ou ser politicamente correctos. Não há nada de verdadeiro num artista que não gere à sua volta o caos para depois reconstruir o universo segundo a sua visão. A ordem só nasce depois de uma profunda transformação, de uma recusa radical em se trilhar caminhos já conhecidos. Para que serviriam os artistas se, conformadamente, se entretivessem apenas a juntar cores e formas bonitas, só para agradar e sem preocupação de inovar?
Nascer com algo dentro que lhes permite ver além do óbvio, que lhes revolta as entranhas e dói de uma forma que jamais lhes consente dizer apenas amen, e ser um veículo de uma qualquer força que os obriga a derrubar tudo, usando se necessário o próprio corpo, é um dom ou uma maldição impossível de domar e de manter paredes meias com as convenções.
Qual é a utilidade de um artista que aceita vergar-se à ordenada realidade alheia em vez de, honrando o seu destino, romper o chão como uma lâmina gigante, rasgando tudo à sua passagem? Pois se é exactamente aí que está a justificação da sua existência...

segunda-feira, 11 de abril de 2011

11 de Abril de 1974

Baía de Inhambane (Foto: MMFerreira)
Chegámos a Inhambane a 11 de Abril de 1974, vindos de Manica, junto à fronteira com o actual Zimbabué. No dia seguinte começámos a ouvir, na BBC, notícias de que ia haver um golpe de estado em Portugal. Sentávamos-nos à noite nos degraus da entrada à espera do desenrolar dos acontecimentos. O alerta chegou catorze dias depois, alguns minutos passados da meia-noite, da casa do lado. Saímos todos para a rua. Os vizinhos fizeram o mesmo e juntaram-se algumas pessoas no passeio da avenida, em frente às casas. Também houve quem trancasse portas e janelas nessa noite.

domingo, 10 de abril de 2011

do dia da lua ao dia do sol

A propósito do post abaixo, adoro segundas-feiras, as conversas com alguns amigos acabaram por conduzir ao significado dos nomes dos dias da semana, que correspondem afinal aos seus regentes astrológicos, se possível ordenados como na figura acima, uma estrela de David.
Em português a coisa escapa-nos, pela conversão dos respectivos nomes nos dias de feira. Curioso foi saber que os vizinhos espanhóis, que a dada altura também seguiam o mesmo sistema que nós, depois das invasões napoleónicas voltaram a usar a antiga nomenclatura: lunes, martes, miércoles, jueves, viernes, sabado e domingo.
Segunda será então o Dia da Lua (feminino), terça o de Marte , quarta o de Mercúrio (que rege as comunicações, o comércio e os ladrões, dia tradicional das feiras regionais entre nós), quinta de Júpiter (e da boa fortuna), sexta de Vénus (antigamente, o dia dos homens irem às prostitutas), sábado de Saturno (ou descanso, pausa - em inglês, o Saturn Day que deu origem ao Saturday) e domingo, Dia do Sol.
Portanto, podenos imaginar, com toda a facilidade, reuniões da tupperware e das neodeusas à segunda; declarações de guerra ou o fêquêpê a jogar, às terças; saldos de garagem e comunicações importantes, a par com grandes roubalheiras, à quarta; a quinta como um dia bom para tudo o que requeira sorte; sexta para o enrolanço íntimo; sábado para descansar de todos os excessos; e domingo para o sexo forte confraternizar.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

desastre comunicativo



Em tempo de crise, o que levará três empresas como a Sapo, a Sagres e a Super Bock a produzir anúncios como estes, em que o adjetivo machista é obviamente escasso para classificar a pobreza de chavões que afastam pelo menos 50 por cento do público alvo?



Este, da Sagres, além do infeliz machismo, insulta as mulheres, retratando-as como meras figurantes, cuja maior alegria é mostrar as mamas aos rapazinhos bebedores e egocentrados (somos nós...). Ainda por cima, tem como figurantes de "topo" o Figo e o Manzana, que assim entram para a história como quaisquer outras cavalgaduras machistas, capazes de todas as tristes figuras em público para ganhar uns euros.



A Sagres Mini vai ainda mais longe, depois de pôr os rapazinhos aos abraços (como se "eles" andassem para aí no apalpanço público sem medo das consequências), recorrendo ao preconceito das "primas fáceis" para a graçola de fecho do anúncio.



A Super Bock, no seu anúncio de minis a "puxar pela amizade", faz com que os três "meninos" se deixem guiar por garrafas de cerveja que se empinam, assim como qualquer pénis a precisar de desabafar, e corram uns para os outros. Não deixa de ser curioso...

quarta-feira, 6 de abril de 2011

hostilidade doméstica

Tenho um electrodoméstico hostil em casa, disposto a obrigar-me a tomar duches frios só porque não descubro o istapor do botão de reset do sensor de acumulação de gases. Como é que uma coisa tão importante pode estar camuflada no topo de um electrodoméstico mudo e sem manual de instruções? Isto é mesmo coisa de homens. Se fosse uma mulher a incluir um botão desses,era vermelho berrante e ficava logo à frente do nariz. Assim, vou ter de chamar o vizinho e explicar-lhe que tenho uma crise doméstica a reclamar atenção masculina. Tudo isto porque ainda não vendem caldeiras cor-de-rosa, às flores e com botões de reset em locais de acesso óbvio. Raios partam os electrodomésticos com a mania de que também são machos...

segunda-feira, 4 de abril de 2011

adoro segundas-feiras

Sei que devia odiar as segundas-feiras, como fazem a maioria das pessoas encerradas nas suas vidas que não talharam à sua medida. Em vez disso, adoro segundas-feiras e aquela implícita noção de que começa tudo outra vez. Por pior que tenha corrido a semana anterior ou o fim-de-semana.
(Devia estar a escrever sem hífens, segundo o contestado acordo ortográfico, mas ainda não me apetece. Acabarei por chegar lá, a força de conveniências várias, mas ainda não me apetece mesmo.)

quinta-feira, 17 de março de 2011

silêncio


Estou no silêncio. Assim como estava escondida por trás das cortinas quando era miúda. É o meu esconderijo, o sítio onde me refugio para retemperar forças e me apaziguar.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

manadas em atropelo

Gosto das manhãs de domingo em silêncio, com uma chávena de café ao lado e um livro aberto nas primeiras páginas. O mundo assim é seguro por uns momentos. Resguardado de alturas mais agrestes, em que toda a privacidade nos é retirada.
Sempre tive uma grande tendência para olhar para as fortalezas como ratoeiras prestes a ser engolidas pelo enorme e imprevisível mundo que as rodeia. Não construo, por isso, nenhuma fortaleza em torno de mim. Acho-as inúteis, uma espécie de patéticos trabalhos de Hércules que consomem a nossa energia e não nos devolvem nenhuma espécie de segurança.
Os cavalos de Tróia têm, por isso, livre circulação na minha vida. São, na verdade, manadas selvagens em constantes atropelos para onde quer que me vire. Por mais avisada que esteja sobre a sua existência, sou incapaz de lhes fechar a porta e deitar a chave fora.
A nossa vida está cheia de coisas que não conseguimos controlar. Ondas fantásticas, maremotos, tempestades e derrocadas. Por mais que as temamos, é impossível evitar o fascínio que exercem sobre nós, a tremenda beleza com que nos esmagam.
A minha natureza pertence a este mundo e está entrelaçada nas suas mais violentas correntes. A cada golpe seu sinto também a inescapável identificação. Reconheço-me fatalmente na dor que me provocam.
A minha escolha é, portanto, ignorar a segurança das fortalezas e receber cada ataque até ao limite das minhas possibilidades.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

uma questão de reputação



Uma vez recebi um telefonema bem intencionado, a visar-me do que alguém andaria a dizer sobre mim. Expliquei na altura que não podia, com a minha mão, tapar a boca de quem, aparentemente, me difamava. Por esse motivo, a minha reacção era seguir em frente, aceitando o facto de não poder controlar o efeito que essas coisas têm. Como não tenho o poder de controlar tragédias naturais ou acontecimentos bem para lá da nossa capacidade de previsão.
O efeito que esse diz-que-disse tem nas nossas vidas pode bem ser o de um tremor de terra, de um acidente insuspeitado, de qualquer coisa irremediável. Mas, mais uma vez, pouco ou nenhum controlo temos sobre essas coisas.
A nossa reputação são muitas entidades além de nós, criadas por gente conhecida e desconhecida, histórias debitadas aqui e ali, impressões deixadas acolá.Tudo pontas e meadas que, juntas, são um emaranhado assustador e muitas vezes injustificado.
Que fazer, então? Mobilizar todas as nossas forças contra esse exército de sombras e sussurros anónimos e impossíveis de rastrear? Não me parece sensato.
A minha escolha é, portanto, confiar na capacidade que os outros têm de avaliar por si próprios os meus defeitos e qualidades, sem confiar às cegas nos juízos de valor que já passaram por muitas segundas-mãos até chegar a um receptor que não tem ideia nenhuma do ruído de fundo que já lhes foi adicionado ou subtraído.
Tudo por uma questão de reputação.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

janela riscada sobre verde

Escrito assim, como não querendo que mais ninguém leia, uma mensagem riscada por desconhecidos, cifrada na intenção e no destinatário.
Um dia passamos e já não está, dissolvida por jactos de limpeza, mudanças de dono e outros projectos.
O efémero também é um sinal, um discurso inteiro que não precisa de ficar escrito. Não há sinal gráfico para ele. Basta a sugestão e parece que faz da atenção refém, com uma ameaça que, de não expressa, ainda nos parece mais violenta.
E há o verde esbatido dos azulejos, gasto como as memórias, a pedra manchada, o polimento do corrimão tocado por inúmeras mãos.
Ali, ao sol, a janela rabiscada tem um molho de histórias, promessas que nunca saberemos resolver.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

ligeira

Hoje vou pegar na minha bagagem de boa disposição e outros essenciais, andar por aí e não deixar que nada me aborreça. Tiro o dia para me mimar e contrariar a predisposição geral para a crise. Já tentei fazer uma lista mental das coisas que me agradariam neste momento: ficar ao sol de olhos fechados, a ouvir música; sentar-me numa esplanada com borrachinhas nos ouvidos e ficar a observar as caras e os tiques de quem se senta à volta; ler um bocadinho coisas daquelas que nãos nos fazem ter vontade de saltar para a página seguinte porque estão bem escritas e nos dão prazer; arrastar-me pela rua a contrariar a pressa dos outros; sentir o vento na cara e o cheiro do mar. A lista é demasiado grande para decidir agora. Um passo de cada vez. Vou sair de casa e deixar-me levar. Não me procurem, porque a vossa vontade contraria sempre a minha e isso enerva-me. Quero estar sozinha porque as pessoas já não sabem estar com as outras sem tentar impingir-lhes qualquer coisa para fazer que as torne, aos seus e aos nossos olhos, pessoas mais interessantes e aparentemente vivas. Hoje, se fizerem favor, vão-se lixar, porque eu quero saborear o simples facto de estar por aqui, sem ter de, nem querer acreditar em nada de especial. Tiro férias de quereres.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

reset






Há dias em que a cabeça está como estas nuvens, um emaranhado de coisas quase impossíveis de alcançar. Mas é segunda-feira e ainda bem que a cabeça está preenchida e há coisas para tratar, ponderar, pedir, entregar, sugerir, elucidar.
Depois, uma pausa para ir até ao mar reorganizar as ideias, assim à força de ventanias e frios a bater na cara. É como um reset da coisa toda, sem necessidade de recorrer a um botão, que nisso a massa cinzenta é coisa divina. Um único pensamento dá direito a recomeçar tudo de fresco sem necessidade do suporte físico de um botão. Melhor? Impossível...

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

rescaldos


Ontem, antecipando a lógica possibilidade de adesão à greve de uma empregada doméstica que ainda não existe cá em casa, aspirei. Talvez por ser dia de paralisação geral, recebi uma chamada do centro de saúde local a dizer que o meu pedido de mudança de médico de família não vai acontecer. Haverá alguma ligação possível entre estes dois eventos? À partida parece que não, mas as aparências iludem...

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

os sobrinhos do capitão


Alguém se lembrou de, em Novembro, pedir às pessoas para substituírem, em Novembro, a sua fotografia pela do seu herói favorito de banda desenhada. A minha escolha foram Os Sobrinhos do Capitão, que conheci através dos suplementos de banda desenhada dos jornais lisboetas que o meu avô materno nos enviava para Moçambique.
A energia de Hans e Fritz era irresistível. E a paixão mantém-se.
Os Katzenjammer Kids, ou Os Sobrinhos do Capitão nasceram há 112 anos. Também foram publicados com a denominação Hans and Fritz, nome dos gémeos endiabrados da BD, e The Captain and the Kids.
Os personagens centrais eram o Capitão, a Mama, o Coronel (inspector escolar, caça-gazeteiros, amigo do Capitão) e Fritz e Hans, os filhos gémeos da Mama, que nunca foram sobrinhos realmente do Capitão.
As histórias passavam-se numa colónia alemã de uma ilha tropical, onde a Mama tinha uma pensão. Um dos hóspedes é precisamente o Capitão, ex-marinheiro, cujo navio naufragou naquela costa, e outro o Coronel.Rudolph Dirks, um alemão naturalizado norte-americano, foi o criador desta BD para o The New York Times, onde apareceu pela primeira vez a 12 de Dezembro de 1897. Dirks inspirou-se nos bonecos Max e Moritz, criados em 1860 por Wilhelm Bush, que tiveram suas aventuras traduzidas para o português por Olavo Bilac, em 1915.
Um dos grandes clássicos da banda desenhada norte-americana é a mais antiga BD do mundo e a segunda a ser publicada em todo o mundo – a primeira foi Yellow Kid.
Durante a Primeira Guerra os personagens passaram a ser holandeses por causa da antipatia mundial pelos alemães. Mas recuperaram a nacionalidade original em 1920.Rudolph Dirk desenhou os Katzenjammer Kids até 1914, altura em que foi substituído por Harold Knerr.Em 1898 a série teve a sua primeira versão cinematográfica. Entre 1917 e 1918, foram produzidos dezassete filmes de desenhos animados mudos. E em 1938,Os Sobrinhos do Capitão tornaram-se a primeira série animada da Metro Goldwin Mayer.
A Gradiva publicou em 2003 um álbum desta banda desenhada, já pela pena de Joe Musial.

domingo, 21 de novembro de 2010

coisas entediantes

Por acaso até acho graça a quem se manifesta contra a NATO e depois me manda emails contra a mutilação feminina nos países muçulmanos, mais contra o apedrejamento de mulheres adulteras (ou não). Onde é que está a lógica? E, sobretudo, onde estavam os manifestantes anti-guerra e anti-genocídios e políticamente correctos no 11 de Setembro?
A manifestar-se contra os Estados Unidos, dizia-me ontem uma amiga. Sim, porque os culpados da morte de mais de três mil pessoas nas torres gémeas foram, sem dúvida, os EUA... Aliás, os terroristas e os totalitaristas só aparecem única e exclusivamente por culpa dos EUA.
O mundo é mesmo simples para alguns: para os extremistas ocidentais, o Demónio vive no Médio Oriente; para os extremistas a Oriente, o mal está nos EUA e nos seus aliados. Os manifestantes Green Peace e anti-Nato e anti-guerra e anti-mutilação e anti-discriminação, esses iluminados que entendem tudo, condenam sobretudo quem não procede como eles? Ah, mas ser anti é que está a dar.
Nunca serei a favor da guerra, mas também não sou de dar a outra face. Acredito que devemos confrontar quem age contra nós para que não se instale a impressão de que calo e consinto. Mas não me ocorre jamais ser contra uma organização que, na hora do aperto, vai dar o corpo ao manifesto para continuar a separar as liberdades democráticas da tirania dos regimes totalitários.
E não estou aqui a dizer que a tirania vem do Islão, porque infelizmente, sabemos que na maioria dos países islâmicos há muita gente a ser violentamente reprimida pelos regimes que não aceitam outras liberdades senão as de quem pode e manda.
Estou a afirmar que prefiro uma NATO, contra a qual ainda tenho capacidade de me manifestar, se quiser, a saber que posso levar um tiro se mostrar que não estou de acordo com o ditador de serviço.
As guerras e os seus métodos não são justas. Mas que raio de coerência há em protestar contra os EUA e a NATO, e achar que todo o terrorismo se justifica por causa das políticas externas ocidentais? Então os outros países são compostos de querubins de auréola que não conspiram, nem são capazes de gerar políticas igualmente cruéis e genocidas?
É muito mais fácil pensar a preto e branco, claro, escolher um lado que fique bem e não pensar antes de gritar palavras de ordem e excitados argumentos para eliminar qualquer possibilidade de resposta que não seja igualmente facciosa. Que tédio...
Entretanto, há um grupo de ditadores que conseguiu capitalizar a imagem de um terceiro mundo em que só existem vítimas e inocentes. Os inocentes ocidentais não contam e são culpados até prova em contrário. É preciso ter paciência, caramba.

domingo, 7 de novembro de 2010

o Apocalipse bem espremido


Se Portugal fosse uma equipa e os seus governantes o colectivo de técnicos a orientá-la, parecer-me-ia muito mau e desadequado ter como motivação um cenário negro e de catástrofe em que ninguém acredita nas possibilidades de vitória.
É assim que eu vejo a crise e a inacreditável postura dos políticos no poder e não só. Já para não falar na esmagadora maioria dos economistas que botam faladura apenas para nos convencer que chegámos ao Apocalipse e daqui a nada o FMI vai mandar os (arc)anjos Miguel, Gabriel, Rafael e um quarto, de que se desconhece o nome, repor a ordem a ferro e fogo.
Não chego a perceber se toda a gente perdeu realmente o juízo, ou se acreditam mesmo nesta megalómana campanha de propaganda da crise.
É que esta coisa de fazerem de conta que acreditam que é o mundo/planeta todo que está em crise e não o sistema financeiro (em pirâmide) que está a rebentar pelas costuras, como um qualquer esquema de Dona Branca, é mesmo possidónia.
Porque, afinal, ninguém vai morrer por causa da crise. Muitas pessoas vão passar muito mal, claro que vão. Mas há sempre muita gente a passar mal e ninguém dizia que era da crise. Agora é que a dita se transformou no demo, na coisa a temer.
Até porque o medo é a arma certa para paralisar os crentes e os distrair daquilo que realmente está a acontecer: o sistema financeiro, assim como está, chegou a um ponto de ruptura e é preciso estabelecer o pânico para dar tempo ao exército de retaguarda para se organizar e se pôr em campo com um sistema de reserva.
No fim, não vai mudar nada, o mundo não vai acabar, os esfomeados vão morrer à míngua como sempre morreram e morrerão, fazem-se uns saneamentos revitalizantes, acaba-se com o euro ou outra moeda qualquer para dar lugar a outros e à inevitável alternância, e já está.
Daqui a dez anos toda a gente vai escrever sobre esta crise e apontar algumas das suas verdadeiras razões. Mas não vai mudar mais nada, em rigor, do que algumas pessoas num punhado de gabinetes. A menos que entretanto alguém beba café a mais e desate para aí aos tiros até lhe darem cabo do canastro.
Como dizia o outro pikeno, "deixem-nos trabalhar"...

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

o arrojo que falta

Não consigo resistir às imagens pintadas nas paredes a cair de armazéns e prédios devolutos. Traços seguros, ousados, capazes de atrair todos os olhares, mesmo que de reprovação. Há uma força contida nesta arte que muitas vezes falta nas galerias comerciais, espaços de artistas domesticados pela promessa de muitos euros e glórias póstumas. Não quero com isto dizer que os artistas não devam reivindicar para si os frutos do seu trabalho. Pelo contrário. O que é importante, para que isso aconteça, é que os galeristas deixem de pensar apenas em telas bonitas para decorar as salas de estar da morna classe média quase alta e comecem a reivindicar também arrojo e rebeldia, aquilo de que é feita a arte que fica e não se esquece na próxima leva de decoração caseira.