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quarta-feira, 3 de outubro de 2018

casual strokes

"casual strokes" by MMF - photo by Paulo Paz
O artista mostra-se, não raro, relutante no que toca à verbalização do processo que leva à sua obra. O que não admira, porque poucas coisas são mais pessoais. Da forma como surge uma ideia, um conceito, passando pelos meios que emprega para a sua materialização, às escolhas que faz durante todo o percurso que lhe é natural, tudo tem que ver com o seu processo interior. Com a forma como resolve apresentar esse processo e que corresponde a um inevitável percurso de consciência e transformação pessoal.
O ofício artístico, consciente ou não, nunca deixa de ser uma tarefa pessoal de crescimento e entendimento. Representa um estudo e uma prática concretos pelos quais se passa na viagem de conhecimento interior que todos fazemos. No caso dos artistas, ela é expressa em formas concretas e observáveis pelos outros. E é a empatia que gera, a oferta em que os outros se revêem, que torna a obra apreciada e entendida.
Este processo não é consciente para a maioria das pessoas, artistas incluídos, na medida em que muitos preconceitos sobre a prática artística a remetem sistematicamente para uma actividade menor. O artista é ainda entendido como o excêntrico, o socialmente desajustado que insiste numa forma de estar e trabalhar sem efeitos quantificáveis. Exactamente o oposto do que é a sua capacidade de realização e a frescura que traz a uma visão esquálida das nossas possibilidades.
A documentação, discussão e compreensão do processo artístico é, por isso, essencial ao seu crescimento pessoal e como agente cultural. E a fruição da obra é apenas o primeiro passo dos outros para o entendimento dos seus mecanismos individuais de evolução.
O trabalho artístico não é um capricho, mas uma ferramenta através da qual todos ganhamos e avançamos. Assim nos permita a nossa vontade e consciência.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

parolismos e finezas

 Elephant in the Room – Claire Morgan – Hull UK City of Culture 2017 (Photo by Tom Arran)
Lembrava-me um amigo, aqui há dias, que a cultura não tem que ver com as artes, mas com uma fórmula mais abrangente de estar [Edward B. Tylor: cultura é "todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade"].
Algumas pessoas desenvolvem, durante a sua vida e por motivos que não vale a pena enumerar aqui, uma insegurança que as leva a considerar a sua cultura sempre aquém do que outras culturas fazem ou desenvolvem. A galinha dos vizinhos parece-lhes sempre mais gorda que a sua.
Temos então os parolismos, que são aqueles considerandos que levam as pessoas a aclamar cegamente o que se faz "lá fora" como o cúmulo do moderno e desenvolvido. E a desdenhar o que se desenvolve à porta como coisas sem valor e sempre abaixo dos modelos de outras bandas e outras culturas.
Não havendo nada de errado nas ideias e nas formas como se desenvolvem as culturas estrangeiras, não deixa de ser um parolismo negar a própria e condenar a criatividade local às catacumbas da inutilidade.
Por exemplo, Cascais tornou-se nos últimos anos, um exemplo de parolismo extremo. Confunde-se o cosmopolitismo com a imitação cega, compram-se mundos e fundos de ideias e espectáculos estrangeiros e não se aproveita a matéria-prima local.
O contacto com culturas diferentes nada tem de despropositado e é até estimulante. Mas dar-lhe a primazia enquanto se enche a boca com as características qualidades locais, é no mínimo insensato e arrisca uma amálgama descaracterizante que, no final, só prejudica a cultura local. Quem, no seu perfeito juízo, viria para Cascais ver o que pode ver nas suas cidades de origem?
É o talento e a cultura local que atraem gente de outras culturas. É desnecessário mostrar-lhes mais do mesmo, porque não é isso que buscam.
O medo de não ser suficientemente bom para os outros é um parolismo a evitar. O que nos faz bons é o respeito pelo que somos e fazemos, assim como o respeito pelo que os outros fazem e sabem. Conjugar as duas coisas é uma fineza de espírito que nos torna excepcionais.
[A fineza de espírito consiste em pensar com honestidade e delicadeza - François Rochefoucauld]

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

pague-se o Louvre local!

Depois de oferecer concertos megalómanos (e não especialmente melómanos) durante o verão na Baía de Cascais a uma população que nem sequer era maioritariamente do concelho, com resultados que passaram por despesas extraordinárias de segurança e de limpeza do centro da vila, a autarquia local decidiu cobrar entradas para as exposições no Centro Cultural de Cascais (três euros para quem não é do concelho e metade disso para aqui vive). E parece que não será o único espaço dedicado à cultura em que se fará tal cobrança (medida em vigor desde o passado mês de Outubro, no CCC, Casa das Histórias, Museu Conde de Castro Guimarães e Casa Duarte Pinto Coelho, pelo menos).
À entrada, se tiverem sorte, ouvirão o segurança e o funcionário ao balcão argumentar que, para ver o Louvre também se paga entrada. Comparação mais que justa, claro. Sobretudo se soubermos que um passe de dois dias para todos os museus parisienses custa quarenta e dois euros e a entrada na Tate Modern é gratuita, sendo cobrada entrada apenas para as exposições especiais. Os programas culturais em Cascais estão, claramente, ao nível dos dois exemplos citados.
Temos de compreender que o afluxo de turistas aos espaços culturais cascalenses é avassalador e importa em despesas que todos temos de partilhar. Isso faz o mais perfeito sentido depois do cuidado que os governos locais tiveram em se apropriar da gestão de todos os eventos, oferecendo condições impossíveis de bater por qualquer outro agente cultural. Agora, consolidada a política de monopólio da cultura pela autarquia, há que pagar para ver o que o poder escolhe apresentar.
Se algumas das propostas até são atraentes, a fraca frequência indica o resultado real desta política, que investe muitas centenas de milhares de euros em espectáculos gratuitos que desfiguram a qualidade de vida local, e depois cobra entradas em eventos de menor envergadura e cuja frequência devia assegurar, nem que fosse apenas pela vergonha de pedir dinheiro por actividades para as quais existem orçamentos destinados ao seu fomento.
Este caso faz lembrar o espírito de um curioso título do Mensageiro de Bragança, fundado em 1940 e sempre sob a gestão da diocese local: "Bragança ou Moscovo - Cidade ou Selva". Tudo por mor de um banho menos "vestido", tomado por um grupo de rapazolas no riacho local durante o verão, que indignou as boas famílias transmontanas e provocou igual indignação ao autor do artigo do Mensageiro.
Então se o Louvre cobra entradas, não o há-de fazer o Centro Cultural de Cascais? Isto é alguma selva? Hão-de concordar...

sexta-feira, 4 de julho de 2014

panem et circenses

Imagem daqui
A cultura transformada em ilusionismo é a prática política que mais popularidade ganhou nos últimos anos. Pão e circo (panem et circenses), com muito menos pão porque a finalidade é manter um reduzido número de patrícios e muitos dependentes.
Os impostos que todos pagamos, nem que seja apenas através das taxas aplicadas a todos os serviços, sempre contemplaram uma pequena parcela para a cultura. O Estado tem uma verba para a cultura, mesmo tendo acabado com o ministério correspondente. As câmaras têm verbas para a cultura.
A finalidade desses tostões era promover a cultura, ajudando os agentes culturais a criar os seus espectáculos e as suas formas de se expressar. 
Acontece que, com o dinheiro que é de todos, em vez de promover os agentes culturais, as entidades públicas criaram formas de se constituírem eles próprios em agentes da cultura. Sem aptidões próprias para isso e com a finalidade de fornecer o tipo de 'espectáculo cultural' que serve melhor os seus propósitos.
O país tornou-se, portanto, num grande palco em que os políticos são os supostos mecenas, enchendo praças, ruas e espaços culturais com as diversões que entendem. Tudo de graça, tudo para diversão do povo.
Os artistas e os verdadeiros agentes culturais, vêem-se dessa forma impedidos de competir com a cultura instituída, que é de borla e arrasa qualquer tentativa de produzir ofertas e mensagens em liberdade de pensamento e em nome da verdadeira cultura.
Enquanto o País pula de festa em festa, sacudindo as preocupações com bebida e luzes patrocinadas por grandes multinacionais, a livre escolha e o pensamento são erradicados da vida de cada pessoa, as alternativas suprimidas e toda a oferta fica sob o controlo dos políticos.
Açambarcar assim uma área de actividade devia ser objecto de investigação desse discreto organismo que dá pelo nome de Alta Autoridade para a Concorrência. Devia ser um crime público, para que qualquer um pudesse denunciar o abuso e a manipulação, uma vez que os artistas e os agentes de espectáculos jamais terão hipótese de financiar a seu favor o julgamento deste tipo de violação e abuso de poder.
Quando aceitamos a ideia de Estado e de Governo confiamos a representantes a nossa defesa, não a nossa alienação.

domingo, 5 de agosto de 2012

para onde foi a cultura?

Imagem daqui
As páginas de cultura desapareceram dos jornais (depois afligem-se que eles acabem...). Aqui há uns anos, e não foram muitos, todos tinham páginas de cultura, que distinguiam entre as várias disciplinas, artes plásticas, literatura ou livros, cinema, teatro, televisão. Agora, nem online se descobrem notícias. Até o Expresso, que tanto se acha e em tempos se exibia no café para demonstrar o alto estatuto intelectual de quem o lia, carregou no Delete dessa desinteressante rubrica. As suas sugestões culturais resumem-se aos filmes, norte-ameriacanos, claro, porque já ninguém vai ao Nimas nem ao Quarteto, onde as fitas não passam em volumes de som que têm de se sobrepor ao barulho de trincadelas de pipocas e sorveduras de gasosas.
O Correio da Manhã, sempre considerado um subproduto da imprensa, é dos poucos que ainda mantém a palavra Cultura nos seus separadores, como parte do Lazer. O Público também, mas é escusado tentar divulgar o esforço de escritores, artistas plásticos e outros trabalhadores culturais, porque o enfoque é geralmente dado aos subsídios, aos famosos depois de mortos, às fundações e às guerras dos gangues organizados que se apoderaram dos postos 'culturais' ainda existentes e com direito a algum dinheiro. Não tentem encontrar aí sugestões e opiniões sobre livros, exposições, peças ou iniciativas meritórias. O artista tem de aparecer na televisão para merecer honras de artigo ou entrevista. Mesmo assim, o mais provável é que a escrita seja sobre a sua vida pessoal e não sobre o seu trabalho, que provavelmente ninguém conhece. O Diário de Notícias tem uma secção de Artes onde também é impossível divulgar seja o que for, além de óbitos célebres e onde os fait divers fazem as vezes de noticiário cultural. 
Quanto às revistas e jornais gratuitos e aos seus digests de títulos com mais de duas linhas, é melhor nem falar. Há uns anos chamavam-se Breves e Foto-legendas às notícias que hoje enchem papel com grande prejuízo para o meio-ambiente e saúde mental de quem tem a pretensão de que lê.
Queixam-se de que a imprensa está a desaparecer? Mas que fez a imprensa nas últimas duas décadas para criar e conquistar leitores? Nada. Só colhe quem semeia. Quiseram transformar a imprensa num produto altamente rentável subtraindo-lhe todas as características que a tornavam única e enchendo as redacções de estagiários não remunerados. Boa sorte.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

xtupida!

Se meto tudo em todo o lado e coloco onde devia pôr, para que serve esse teimoso verbinho com pretensões a insubstituível? Porque no colocar é que está o ganho, visto que pôr não se lhe compara em quantidade e sonoridade silábica.
Já agora, meto sim, para que saibam, visto que pôr dentro de é significado que já não assenta neste outro verbo, de forma alguma, nem sequer para as últimas gerações de professores e outros doutos universitários.
Mais uma vez, para que serve o insignificante pôr? Só se for para sufixar em pôr-ra!, e ganhar em óbvia utilidade vernácula e imediata.
Estranho? Nem pensar, num país em que o negócio da Educação se tornou num chorudo retorno de euros sem exigências de quaisquer mais-valias sociais ou culturais.
O que é preciso é meter o comer na mesa e não queimar a vista com coisas que não pagam a renda a ninguém. E, pelo caminho, controlar a rotunda e fazer orelhas mouchas a esses que acham que sabem tudo. Ou não é verdade que o comer se cozinha todo em cru, como toda a gente sabe, e que os legumes da sopa se torturam?
Além disso, também digo a ela que ouvistes muito bem e que vais de carrinho se vens práki engrupir-me com o acordo outrográfico. Táxe?
Portanto, pôr, pôr, isso é que nem pensar.

sábado, 27 de junho de 2009

a alice de burton



Nunca foi uma das minhas histórias preferidas. Em criança, achava que todos os personagens eram simplesmente ameaçadores e que a Alice estava a ter um pesadelo em vez de aventuras. Os personagens tinham traços de maldade que me desagradavam. A minha opinião não mudou muito desde essa altura. Não seria jamais um livro que oferecesse a uma criança.
Agora surge este filme do Tim Burton, com um cenário realmente fantástico (ver aqui) e não tenciono perder. Afinal, há quem a veja também não como uma história para crianças, mas sim de terror. Estou aliviada. Não me enganei nas primeiras impressões.
É uma produção Disney com Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Matt Lucas,Anne Hathaway, a voz de Michael Sheen para o coelho e provavelmente Ryan Nicole Parker no papel de Alice.