quarta-feira, 6 de abril de 2011

hostilidade doméstica

Tenho um electrodoméstico hostil em casa, disposto a obrigar-me a tomar duches frios só porque não descubro o istapor do botão de reset do sensor de acumulação de gases. Como é que uma coisa tão importante pode estar camuflada no topo de um electrodoméstico mudo e sem manual de instruções? Isto é mesmo coisa de homens. Se fosse uma mulher a incluir um botão desses,era vermelho berrante e ficava logo à frente do nariz. Assim, vou ter de chamar o vizinho e explicar-lhe que tenho uma crise doméstica a reclamar atenção masculina. Tudo isto porque ainda não vendem caldeiras cor-de-rosa, às flores e com botões de reset em locais de acesso óbvio. Raios partam os electrodomésticos com a mania de que também são machos...

segunda-feira, 4 de abril de 2011

adoro segundas-feiras

Sei que devia odiar as segundas-feiras, como fazem a maioria das pessoas encerradas nas suas vidas que não talharam à sua medida. Em vez disso, adoro segundas-feiras e aquela implícita noção de que começa tudo outra vez. Por pior que tenha corrido a semana anterior ou o fim-de-semana.
(Devia estar a escrever sem hífens, segundo o contestado acordo ortográfico, mas ainda não me apetece. Acabarei por chegar lá, a força de conveniências várias, mas ainda não me apetece mesmo.)

quinta-feira, 17 de março de 2011

silêncio


Estou no silêncio. Assim como estava escondida por trás das cortinas quando era miúda. É o meu esconderijo, o sítio onde me refugio para retemperar forças e me apaziguar.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

manadas em atropelo

Gosto das manhãs de domingo em silêncio, com uma chávena de café ao lado e um livro aberto nas primeiras páginas. O mundo assim é seguro por uns momentos. Resguardado de alturas mais agrestes, em que toda a privacidade nos é retirada.
Sempre tive uma grande tendência para olhar para as fortalezas como ratoeiras prestes a ser engolidas pelo enorme e imprevisível mundo que as rodeia. Não construo, por isso, nenhuma fortaleza em torno de mim. Acho-as inúteis, uma espécie de patéticos trabalhos de Hércules que consomem a nossa energia e não nos devolvem nenhuma espécie de segurança.
Os cavalos de Tróia têm, por isso, livre circulação na minha vida. São, na verdade, manadas selvagens em constantes atropelos para onde quer que me vire. Por mais avisada que esteja sobre a sua existência, sou incapaz de lhes fechar a porta e deitar a chave fora.
A nossa vida está cheia de coisas que não conseguimos controlar. Ondas fantásticas, maremotos, tempestades e derrocadas. Por mais que as temamos, é impossível evitar o fascínio que exercem sobre nós, a tremenda beleza com que nos esmagam.
A minha natureza pertence a este mundo e está entrelaçada nas suas mais violentas correntes. A cada golpe seu sinto também a inescapável identificação. Reconheço-me fatalmente na dor que me provocam.
A minha escolha é, portanto, ignorar a segurança das fortalezas e receber cada ataque até ao limite das minhas possibilidades.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

uma questão de reputação



Uma vez recebi um telefonema bem intencionado, a visar-me do que alguém andaria a dizer sobre mim. Expliquei na altura que não podia, com a minha mão, tapar a boca de quem, aparentemente, me difamava. Por esse motivo, a minha reacção era seguir em frente, aceitando o facto de não poder controlar o efeito que essas coisas têm. Como não tenho o poder de controlar tragédias naturais ou acontecimentos bem para lá da nossa capacidade de previsão.
O efeito que esse diz-que-disse tem nas nossas vidas pode bem ser o de um tremor de terra, de um acidente insuspeitado, de qualquer coisa irremediável. Mas, mais uma vez, pouco ou nenhum controlo temos sobre essas coisas.
A nossa reputação são muitas entidades além de nós, criadas por gente conhecida e desconhecida, histórias debitadas aqui e ali, impressões deixadas acolá.Tudo pontas e meadas que, juntas, são um emaranhado assustador e muitas vezes injustificado.
Que fazer, então? Mobilizar todas as nossas forças contra esse exército de sombras e sussurros anónimos e impossíveis de rastrear? Não me parece sensato.
A minha escolha é, portanto, confiar na capacidade que os outros têm de avaliar por si próprios os meus defeitos e qualidades, sem confiar às cegas nos juízos de valor que já passaram por muitas segundas-mãos até chegar a um receptor que não tem ideia nenhuma do ruído de fundo que já lhes foi adicionado ou subtraído.
Tudo por uma questão de reputação.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

janela riscada sobre verde

Escrito assim, como não querendo que mais ninguém leia, uma mensagem riscada por desconhecidos, cifrada na intenção e no destinatário.
Um dia passamos e já não está, dissolvida por jactos de limpeza, mudanças de dono e outros projectos.
O efémero também é um sinal, um discurso inteiro que não precisa de ficar escrito. Não há sinal gráfico para ele. Basta a sugestão e parece que faz da atenção refém, com uma ameaça que, de não expressa, ainda nos parece mais violenta.
E há o verde esbatido dos azulejos, gasto como as memórias, a pedra manchada, o polimento do corrimão tocado por inúmeras mãos.
Ali, ao sol, a janela rabiscada tem um molho de histórias, promessas que nunca saberemos resolver.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

ligeira

Hoje vou pegar na minha bagagem de boa disposição e outros essenciais, andar por aí e não deixar que nada me aborreça. Tiro o dia para me mimar e contrariar a predisposição geral para a crise. Já tentei fazer uma lista mental das coisas que me agradariam neste momento: ficar ao sol de olhos fechados, a ouvir música; sentar-me numa esplanada com borrachinhas nos ouvidos e ficar a observar as caras e os tiques de quem se senta à volta; ler um bocadinho coisas daquelas que nãos nos fazem ter vontade de saltar para a página seguinte porque estão bem escritas e nos dão prazer; arrastar-me pela rua a contrariar a pressa dos outros; sentir o vento na cara e o cheiro do mar. A lista é demasiado grande para decidir agora. Um passo de cada vez. Vou sair de casa e deixar-me levar. Não me procurem, porque a vossa vontade contraria sempre a minha e isso enerva-me. Quero estar sozinha porque as pessoas já não sabem estar com as outras sem tentar impingir-lhes qualquer coisa para fazer que as torne, aos seus e aos nossos olhos, pessoas mais interessantes e aparentemente vivas. Hoje, se fizerem favor, vão-se lixar, porque eu quero saborear o simples facto de estar por aqui, sem ter de, nem querer acreditar em nada de especial. Tiro férias de quereres.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

reset






Há dias em que a cabeça está como estas nuvens, um emaranhado de coisas quase impossíveis de alcançar. Mas é segunda-feira e ainda bem que a cabeça está preenchida e há coisas para tratar, ponderar, pedir, entregar, sugerir, elucidar.
Depois, uma pausa para ir até ao mar reorganizar as ideias, assim à força de ventanias e frios a bater na cara. É como um reset da coisa toda, sem necessidade de recorrer a um botão, que nisso a massa cinzenta é coisa divina. Um único pensamento dá direito a recomeçar tudo de fresco sem necessidade do suporte físico de um botão. Melhor? Impossível...

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

rescaldos


Ontem, antecipando a lógica possibilidade de adesão à greve de uma empregada doméstica que ainda não existe cá em casa, aspirei. Talvez por ser dia de paralisação geral, recebi uma chamada do centro de saúde local a dizer que o meu pedido de mudança de médico de família não vai acontecer. Haverá alguma ligação possível entre estes dois eventos? À partida parece que não, mas as aparências iludem...

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

os sobrinhos do capitão


Alguém se lembrou de, em Novembro, pedir às pessoas para substituírem, em Novembro, a sua fotografia pela do seu herói favorito de banda desenhada. A minha escolha foram Os Sobrinhos do Capitão, que conheci através dos suplementos de banda desenhada dos jornais lisboetas que o meu avô materno nos enviava para Moçambique.
A energia de Hans e Fritz era irresistível. E a paixão mantém-se.
Os Katzenjammer Kids, ou Os Sobrinhos do Capitão nasceram há 112 anos. Também foram publicados com a denominação Hans and Fritz, nome dos gémeos endiabrados da BD, e The Captain and the Kids.
Os personagens centrais eram o Capitão, a Mama, o Coronel (inspector escolar, caça-gazeteiros, amigo do Capitão) e Fritz e Hans, os filhos gémeos da Mama, que nunca foram sobrinhos realmente do Capitão.
As histórias passavam-se numa colónia alemã de uma ilha tropical, onde a Mama tinha uma pensão. Um dos hóspedes é precisamente o Capitão, ex-marinheiro, cujo navio naufragou naquela costa, e outro o Coronel.Rudolph Dirks, um alemão naturalizado norte-americano, foi o criador desta BD para o The New York Times, onde apareceu pela primeira vez a 12 de Dezembro de 1897. Dirks inspirou-se nos bonecos Max e Moritz, criados em 1860 por Wilhelm Bush, que tiveram suas aventuras traduzidas para o português por Olavo Bilac, em 1915.
Um dos grandes clássicos da banda desenhada norte-americana é a mais antiga BD do mundo e a segunda a ser publicada em todo o mundo – a primeira foi Yellow Kid.
Durante a Primeira Guerra os personagens passaram a ser holandeses por causa da antipatia mundial pelos alemães. Mas recuperaram a nacionalidade original em 1920.Rudolph Dirk desenhou os Katzenjammer Kids até 1914, altura em que foi substituído por Harold Knerr.Em 1898 a série teve a sua primeira versão cinematográfica. Entre 1917 e 1918, foram produzidos dezassete filmes de desenhos animados mudos. E em 1938,Os Sobrinhos do Capitão tornaram-se a primeira série animada da Metro Goldwin Mayer.
A Gradiva publicou em 2003 um álbum desta banda desenhada, já pela pena de Joe Musial.

domingo, 21 de novembro de 2010

coisas entediantes

Por acaso até acho graça a quem se manifesta contra a NATO e depois me manda emails contra a mutilação feminina nos países muçulmanos, mais contra o apedrejamento de mulheres adulteras (ou não). Onde é que está a lógica? E, sobretudo, onde estavam os manifestantes anti-guerra e anti-genocídios e políticamente correctos no 11 de Setembro?
A manifestar-se contra os Estados Unidos, dizia-me ontem uma amiga. Sim, porque os culpados da morte de mais de três mil pessoas nas torres gémeas foram, sem dúvida, os EUA... Aliás, os terroristas e os totalitaristas só aparecem única e exclusivamente por culpa dos EUA.
O mundo é mesmo simples para alguns: para os extremistas ocidentais, o Demónio vive no Médio Oriente; para os extremistas a Oriente, o mal está nos EUA e nos seus aliados. Os manifestantes Green Peace e anti-Nato e anti-guerra e anti-mutilação e anti-discriminação, esses iluminados que entendem tudo, condenam sobretudo quem não procede como eles? Ah, mas ser anti é que está a dar.
Nunca serei a favor da guerra, mas também não sou de dar a outra face. Acredito que devemos confrontar quem age contra nós para que não se instale a impressão de que calo e consinto. Mas não me ocorre jamais ser contra uma organização que, na hora do aperto, vai dar o corpo ao manifesto para continuar a separar as liberdades democráticas da tirania dos regimes totalitários.
E não estou aqui a dizer que a tirania vem do Islão, porque infelizmente, sabemos que na maioria dos países islâmicos há muita gente a ser violentamente reprimida pelos regimes que não aceitam outras liberdades senão as de quem pode e manda.
Estou a afirmar que prefiro uma NATO, contra a qual ainda tenho capacidade de me manifestar, se quiser, a saber que posso levar um tiro se mostrar que não estou de acordo com o ditador de serviço.
As guerras e os seus métodos não são justas. Mas que raio de coerência há em protestar contra os EUA e a NATO, e achar que todo o terrorismo se justifica por causa das políticas externas ocidentais? Então os outros países são compostos de querubins de auréola que não conspiram, nem são capazes de gerar políticas igualmente cruéis e genocidas?
É muito mais fácil pensar a preto e branco, claro, escolher um lado que fique bem e não pensar antes de gritar palavras de ordem e excitados argumentos para eliminar qualquer possibilidade de resposta que não seja igualmente facciosa. Que tédio...
Entretanto, há um grupo de ditadores que conseguiu capitalizar a imagem de um terceiro mundo em que só existem vítimas e inocentes. Os inocentes ocidentais não contam e são culpados até prova em contrário. É preciso ter paciência, caramba.

domingo, 7 de novembro de 2010

o Apocalipse bem espremido


Se Portugal fosse uma equipa e os seus governantes o colectivo de técnicos a orientá-la, parecer-me-ia muito mau e desadequado ter como motivação um cenário negro e de catástrofe em que ninguém acredita nas possibilidades de vitória.
É assim que eu vejo a crise e a inacreditável postura dos políticos no poder e não só. Já para não falar na esmagadora maioria dos economistas que botam faladura apenas para nos convencer que chegámos ao Apocalipse e daqui a nada o FMI vai mandar os (arc)anjos Miguel, Gabriel, Rafael e um quarto, de que se desconhece o nome, repor a ordem a ferro e fogo.
Não chego a perceber se toda a gente perdeu realmente o juízo, ou se acreditam mesmo nesta megalómana campanha de propaganda da crise.
É que esta coisa de fazerem de conta que acreditam que é o mundo/planeta todo que está em crise e não o sistema financeiro (em pirâmide) que está a rebentar pelas costuras, como um qualquer esquema de Dona Branca, é mesmo possidónia.
Porque, afinal, ninguém vai morrer por causa da crise. Muitas pessoas vão passar muito mal, claro que vão. Mas há sempre muita gente a passar mal e ninguém dizia que era da crise. Agora é que a dita se transformou no demo, na coisa a temer.
Até porque o medo é a arma certa para paralisar os crentes e os distrair daquilo que realmente está a acontecer: o sistema financeiro, assim como está, chegou a um ponto de ruptura e é preciso estabelecer o pânico para dar tempo ao exército de retaguarda para se organizar e se pôr em campo com um sistema de reserva.
No fim, não vai mudar nada, o mundo não vai acabar, os esfomeados vão morrer à míngua como sempre morreram e morrerão, fazem-se uns saneamentos revitalizantes, acaba-se com o euro ou outra moeda qualquer para dar lugar a outros e à inevitável alternância, e já está.
Daqui a dez anos toda a gente vai escrever sobre esta crise e apontar algumas das suas verdadeiras razões. Mas não vai mudar mais nada, em rigor, do que algumas pessoas num punhado de gabinetes. A menos que entretanto alguém beba café a mais e desate para aí aos tiros até lhe darem cabo do canastro.
Como dizia o outro pikeno, "deixem-nos trabalhar"...

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

o arrojo que falta

Não consigo resistir às imagens pintadas nas paredes a cair de armazéns e prédios devolutos. Traços seguros, ousados, capazes de atrair todos os olhares, mesmo que de reprovação. Há uma força contida nesta arte que muitas vezes falta nas galerias comerciais, espaços de artistas domesticados pela promessa de muitos euros e glórias póstumas. Não quero com isto dizer que os artistas não devam reivindicar para si os frutos do seu trabalho. Pelo contrário. O que é importante, para que isso aconteça, é que os galeristas deixem de pensar apenas em telas bonitas para decorar as salas de estar da morna classe média quase alta e comecem a reivindicar também arrojo e rebeldia, aquilo de que é feita a arte que fica e não se esquece na próxima leva de decoração caseira.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

desliguem o som!


Por que razão hão-de as pessoas falar tão alto nos cafés e nos restaurantes que se torna insuportável frequentá-los? Será por isso que agora tudo o que é espelunca para servir cafés tem música pimba a escorrer pelos altifalantes? E o barulho que fazem a arrumar a louça e a arrastar cadeiras e mesas? Será normal?
De uma coisa tenho a certeza: é quase impossível garantir um mínimo de silêncio em casa, na rua, nos locais públicos. Outra pergunta: haverá legislação efectiva que impeça as pessoas de enlouquecer com o barulho que toda a gente se lembra de produzir?
Não faço ideia se é normal haver adolescentes retardados com os telemóveis aos berros no metropolitano a debitar música para a carruagem inteira, nem se as pessoas fazem ideia das tristes figuras que produzem quando no meio da rua, em qualquer lado, têm conversas privadas aos gritos para o telemóvel.
Nos condomínios privados, por exemplo, poderia supor-se que haveria outro recato do que o da vizinha aos gritos com os filhos endiabrados, mas é uma ideia enganadora. Da ventilação dos prédios ao barulho dos elevadores, passando pela chinfrineira dos cortadores de relva ou dos aspersores de água nas zonas verdes, é um inferno de ruídos que nunca cessa.
Para tentar de algum modo isolar a minha existência, comprei um MP3 para abafar com música todo o clamor alheio. Só para descobrir que tenho de ligar o som no máximo para ouvir qualquer coisa - e tem de ser algo barulhento, porque a música clássica e o jazz, mesmo no máximo das capacidades do aparelho, não resistem ao ruído exterior.
Achava eu que os portugueses eram inexplicavelmente tensos, irritadiços e mal dispostos. Pudera... Sempre que estou em Portugal, acontece-me o mesmo e, acreditem: é este barulho infernal em todo o lado que dá cabo do nosso ânimo e da nossa disposição.
Por favor: desliguem o som!

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

silêncio que estou a ler


Eram momentos sagrados, os do pequeno-almoço tomado em silêncio, a ler banda desenhada. Às vezes lanches, outras vezes, o prazer de ler com uma taça de papa misturada com leite condensado.
Durante anos, o meu avô materno coleccionou todos os suplementos de banda desenhada dos jornais portugueses, que enviava para as netas, em Moçambique.
A recepção daqueles pacotes era um momento alto das nossas vidas. A mãe Aida abria a encomenda à nossa frente, para não se perder nada. E decretava a seguir o ritmo a que se consumiria aquela leitura.
Uma vez por mês chegava também o caixote dos livros, encomendados numa livraria da Beira. E mais uma vez se repetia o ritual. E a distribuição das leituras.
Os livros foram sempre tantos que, ao sair de Moçambique, houve que tomar a dolorosa decisão de lá deixar quase tudo. A doação à biblioteca de Inhambane aliviou um pouco a separação. Mas confesso que me custou deixar as pilhas de banda desenhada para trás.
Já voltei a Inhambane e à biblioteca, mas os livros não estavam lá. E os leitores pagam 5 meticais para levantar livros. A parte dedicada aos livros ocupa agora uma sala do edifício alocado à polícia.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

flores celestiais


Dos céus vêm sinais, diriam alguns. Como esta 'flor' desenhada no céu por nuvens dispersas pelo vento. Indicativo da fúria divina numa marca indiciadora de desagrados vários? Ou sinónimo de vindouras benesses? A cada qual o seu milagre, digo eu, que já sei que nisto de deuses e diabos é preciso aprendermos a dar-nos com todos. Pela vida fora, fartamos-nos de passar por festas e infernos, muitos deles de bastante menor beleza do que esta imagem. Ao menos aqui assistimos ao ocasional 'floreado celestial' sem outras consequências que as de um magnífico espectáculo.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

as flores da aida


São coisas familiares, essas da terra revolvida e regada que cheira a chuva, das saquetas de papel com sementes, das canas para segurar os pés mais frágeis, dos vasos espalhados por todo o lado e das regas ao final da tarde. São as plantas e as flores da Aida, que sempre gostou de pegar em folhas e hastezinhas para as transformar em plantas e flores viçosas. Ainda ontem me mostrou esta (a da fotografia), mais um dos resultados do seu "dedo verde", que é, como dizem os ingleses, o jeito ou dom para as plantas e para os jardins.
É assim a Aida, no meio dos seus vasos e das lagartixas e osgas a quem também vai dando abrigo. Houve tempos em que teve como companheira uma fiel lagartixa que vivia na máquina da costura.
Se quisesse esboçar-vos uma imagem dela, seria com certeza no meio das plantas e dos animais que tem resgatado a vida inteira, pedacinhos deste mundo a que ninguém mais liga e a que ela restitui vida e significado.
Pensar na Aida é assim como pensar numa mãe de tudo e todos, sempre rodeada de uma aura recheada pelo espírito de tudo e todos quantos foi pondo debaixo da sua asa.

domingo, 15 de agosto de 2010

solidez e força


Sempre me fascinou a solidez e a força das peças da era industrial. Vá lá saber-se porquê. Há uma força nestes objectos, dos quais ignoro quase em absoluto o propósito, que sempre se me impôs como digna de admiração. O design podia não ser imaginativo ou delicado, mas competia vigorosamente com as imagens dos estados totalitários, assim como o Novo ou o Soviético. Com uma ligação quase esmagadora ao material. De alguma forma, inspiravam segurança e, nessa medida, também contribuíram para o êxito de certo tipo de ideologias.

sábado, 14 de agosto de 2010

conversas entre nuvens


Cascais em boa companhia, a misturar três paixões: barcos e mar, luminosidades fugitivas entre nuvens velozes e a conversa que fica a flutuar no ouvido muito depois de ter tido lugar.
Sempre me encantou um céu carregado de nuvens em dias de vento, que é como as ideias que nos passam pela cabeça. Rápidas, mas tranquilas como um passeio de barco sonolento, com vagar para a vadiagem de espírito.