Falar sem para não é ser comunicativo; pelo contrário, é tentar evitar a comunicação. Andar sempre atrás dos outros a despejar episódios da vida própria e da alheia também não é partilhar ou socializar é massacre levado a cabo por gente que não faz a mínima ideia de como se pode estar com os outros.
Também não é sinceridade despejar tudo o que passa pela cabeça em qualquer circunstância; é apenas falta de senso comum e muito má educação.
Se as pessoas tivessem aproveitado mais a escola, evitariam muito do caos que se desenrola nas suas vidas. Por exemplo, aprendendo um pouco mais de gramática e a entender a estrutura da língua que falam e que é, afinal, um espelho da forma como pensam.
Muitos dos atritos e conflitos actuais são, sobretudo, resultado da fraquíssima compreensão da língua que a maioria esmagadora dos indivíduos tem. Não são capazes de interpretar correctamente o que ouvem ou lêem, não compreendem frases idiomáticas e, além da cultura, falta-lhes imenso vocabulário. Não lendo, além da informação que não têm, também não ganham prática de pensar de forma correcta, nem de estar em contacto com ideias e a forma como se formulam.
O resultado é, numa era de comunicação avassaladora como a que decorre, um constante ruído de mensagens que a maioria esmagadora das pessoas não tem capacidade para decifrar.
Para compensar isso, a resposta mais utilizada é criar mais ruído pessoal, como um eco e como alguns fazem quando, em presença de quem não fala o mesmo idioma, aumentam o volume da emissão de voz à laia de tradutor automático.
Ruído, sobre ruído, sobre ruído. Calem-se. Pelo menos o tempo suficiente para entenderem o imenso valor do silêncio. Para o sentirem e compreenderem a paz e a clareza que traz.
Se possível, comprem uma gramática pequenina e leiam duas páginas por dia. Alguma coisa há-de resultar do exercício que não se deram ao trabalho de fazer na escola.
Ter uma multidão barulhenta sempre agarrada aos novos meios de comunicação, sem capacidades básicas para os utilizar, não faz do conjunto uma sociedade mais informada. O retrato mais honesto é o de um gigantesco armazém de aparelhos em constantes curto-circuitos de desentendimento.