quinta-feira, 20 de junho de 2013

sede

Under the light (oil on canvas) - Marita Moreno Ferreira
Debaixo de água e a sentir sede. No sítio e no momento certo e não perceber. Mas sempre a sentir sede de tudo, de mais, de vida até não ser suportável.
Há um torpor nesta nossa vida que não se entende, que quase não se vence. Há uma ideia de querer viver que nos impede de fazer isso mesmo. Uma vida que se tem e que se vive, mas que parece sempre, sempre que podia ser diferente.
E pode, se abandonarmos o pensamento para nos rendermos ao que nos está a acontecer. À sede que nos arrasta e nos consome, apesar da resistência. Temos medo do rio, da corrente, da força das ondas, da vertigem, da queda livre, de um clímax, quando tudo o queremos é justamente isso.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

silêncio

Foto Robert Rabbin
Não há convulsão no silêncio. Quando chega o momento, é para lá que me retiro. Fora do alcance do ruído e do caos, só a liberdade se sente. Só paz, só felicidade. Bem-aventurados são os que cultivam o silêncio e não se sentem na obrigação de acompanhar a agitação e a comoção alheia.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

a inocência dos palhaços

(imagem daqui)
Mais importante do que discutir se um palhaço é ou não palhaço, o importante é ver o que está realmente por trás da máscara.
O mais singular é, no entanto, a imensa capacidade que alguns palhaços têm para acreditar que os outros continuam a ver neles a imagem que compuseram para os iludir.
A verdade é que, num mundo em que a comunicação já não depende do controlo que têm sobre os média e dos esforços das grandes corporações para impor aos fornecedores de serviços de internet e telefone novos métodos de censura, já ninguém tem a inocência idealista de anteriores eras.
Os verdadeiros inocentes são os que se mascaram e acreditam, ainda assim, que o seu disfarce é perfeito e animado e convincente e inviolável. Uma ternura.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

juízo, olhem lá...

Imagem daqui

Os portugueses não são preguiçosos, não produzem pouco, nem têm de figurar obrigatoriamente em rankings de gente que acha que tem de numerar tudo para compreender os factos básicos da vida.
Tirando a vicissitude da tendência de ter governos que trabalham para as corporações estrangeiras, apesar de pagos pelos impostos dos cidadãos nacionais, Portugal é um grande país e alvo de grande cobiça internacional.
De que outra maneira se pode explicar que, periodicamente, cheguem cartagineses, gregos, romanos, espanhóis, franceses, ingleses, americanos, russos, alemães e o diabo a quatro para explorar o Zé Povinho e dizer que temos é de fazer assim e assado, porque eles é que sabem e eles é que têm as carteiras cheias e dá cá mais um par de milhões por esta ajuda que vos estou a dar?
Pelos vistos, os portugueses produzem o suficiente para alimentar incessantemente todos os pouco escrupulosos que vêm aqui amealhar o que depois depositam em paraísos fiscais, e ainda têm educação suficiente para não insultar e correr à paulada os piratas e corsários que só dizem mal da sua galinha de ovos de ouro.
Se Portugal não valesse mesmo nada e só desse tantos problemas, como apregoam, quem no seu perfeito juízo vinha para cá sacar juros e mais juros, impostos e mais impostos, e esvaziar sem dó nem piedade os cofres do Estado e dos civilizados e cumpridores portugueses?
Tenham dó e, se quiserem que continuemos a esportular o dinheirinho que tão fartamente vos alimenta, dobrem a língua e tratem-nos com respeito. Mais não seja porque já perdemos algumas vezes os brandos costumes e já corremos alguns canibais à paulada, matámos uns quantos porta-vozes de interesses estrangeiros a tiro e varremos invasores.
Juízo!

quarta-feira, 22 de maio de 2013

propaganda e justiça nas autarquias

(Ilustração daqui)

Quando surge oposição, a primeira coisa que os regimes totalitaristas fazem é criar mais uma dezena de núcleos de opositores, só para confundir o povo. É o que parece estar a acontecer agora em Cascais.
A seguir ao lançamento da primeira candidatura e do respectivo movimento, ainda o ano passado, o importante foi lançar mais movimentos aliados às candidaturas, ainda que um candidato apoiado por um dos partidos da situação não possa ser considerado um movimento senão em termos de propaganda.
Também para evitar originalidades, todas as candidaturas optaram por incluir o nome de Cascais na sua propaganda e, depois do Ser Cascais, apareceram o Viva Cascais, Liderar Cascais, Cascais para todos e Todos por Cascais. Assim, não há dúvida que os cidadãos poderão distinguir inequivocamente o movimento que mais lhes enche as medidas.
Os socialistas, que este ano apresentam como líder um homem de direita e com muitos antagonistas óbvios no concelho, optaram por o apresentar quase com honras de estadista, numa cerimónia apadrinhada pelo líder do partido que, por mero acaso, está casado com uma funcionária da associação de farmácias que o candidato dirigiu durante décadas, e um general e ex-presidente que, se até agora ainda gozava de uma fama de razoável honestidade, já a perdeu num qualquer jogo de interesses que o levou a aceitar a tarefa de mandatar a campanha de um lobo em pele de cordeiro.
A CDU, que nunca teve em Cascais um berço natural para as suas lutas de classe, muito embora tivessem saído das casas das tias e dos tios da linha muitos dos membros do partido comunista, que também escolheram o concelho para viver, reclama com naturalidade a terra a si e a todos. Com alguma coerência, apesar de tudo.
Outros, mais indecisos, bateram com a porta nos respectivos partidos de direita, engrossaram as fileiras dos independentes, arrependeram-se e lançam agora o Todos por Cascais e seja o que Deus quiser. Amén.
Os bloquistas, que manobraram aqui e ali para se aliarem a alguns independentes, ainda não enterraram o seu estandarte em nenhuma colina local, pairando ainda a dúvida sobre as suas pretensões a concorrer à autarquia isoladamente. A ver vamos com que linhas se cozem até ao anúncio da data das eleições e apresentação das candidaturas.
A coligação PSD/PP, a tentar fugir à péssima imagem criada por este governo, investiu num Viva Cascais populista e demagógico, de campanha inteiramente paga à custa dos contribuintes, cascalenses e não só, sem que nada nem ninguém se lhes oponha. Sem que voz alguma ou estranheza se manifeste. Será que acreditam mesmo que os votos vão continuar a beneficiar o poder e, portanto, mais vale não atrair as más intenções dos poderosos? Seja como for, custa ver os dinheiros públicos gastos em campanha e não em benefício da população e da sua qualidade de vida, como em qualquer república bananeira com vocação para alojar paraísos fiscais.
Confusão assente, a verdade é só uma: os portugueses não gostam dos partidos, por isso este travestimento em movimentos que até podem induzir honestos votantes a pôr a cruzinha nos responsáveis pelo descalabro que se instalou a seguir ao 25 de Abril. Porque a verdade é que, afastadas as grandes famílias no poder durante o regime salazarista, foram os seus primos direitos e tortos que organizaram as novas forças políticas e concertaram o novo regime de exploração popular.
Tão bem o fizeram, que os verdadeiros candidatos independentes têm de gastar do seu dinheiro até ao anúncio da data das eleições pela CNE para se constituírem como uma candidatura e poderem então apresentar contas (sem retroactivos nem reembolsos) do investimento que fizeram para representar os outros cidadãos. E de todas as candidaturas actuais para Cascais, apenas uma (Isabel Magalhães/SerCascais), paga do seu bolso e de nenhuma máquina partidária as suas contas, por sua conta e risco.
Como a justiça é um conceito difícil de abranger, esses mesmos independentes pagam tudo com IVA a 23%, de que os partidos estão isentos nas suas despesas de campanha. Depois dos votos, todos os candidatos repartem os 25% igualmente e os restantes 75% da subvenção estatal para este fim são distribuídos na proporção dos resultados eleitorais obtidos para a assembleia municipal. Atenção, portanto, aos votos brancos que depositam nas urnas e que contam para o indevido proveito dos partidos.
Em 2009 a abstenção no concelho de Cascais foi de 55,93%, ou seja, em 160.300 eleitores inscritos, menos de metade deixou o dinheiro dos seus impostos e o seu destino entregue a pessoas que obtiveram apenas 37.456 votos (CDS/PP), 18.835 (PS), 6.498 (PCP/PEV), 4,426 (BE), 493 (PPM), 310 (PCTP/MRPP), 286 (PNR).
Em abono da verdade, se o mesmo número de pessoas que se manifestou nos últimos protestos contra a situação sair da cadeira para ir votar em Cascais, as probabilidades de mudar alguma coisa são excelentes, apesar da campanha maciça de desinformação e de dispersão dos média, que se concentra em aterrorizar os cidadãos para que não percebam que são roubados por pessoas a quem pagam para gerir o seu dinheiro em forma de serviços públicos de que são beneficiários e nunca devedores.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

dia da terra, de tudo e de todos



Hoje é o dia da Terra e o dia de lembrar que todos os dias são os dias da Terra, de tudo e de todos nós.
De nos lembrarmos que somos todos um e que na unidade ninguém nem nada fica para trás. Ninguém é mais ou menos do que ninguém porque o bem e o mal que fazemos afecta sempre o todo. É como tirar ou pôr uma colher de sopa de água numa taça cheia dela. O que falta é retirado ao todo e o que se põe é acrescentado ao todo.
Se pensarmos assim em termos de planeta e de pessoas, animais e plantas, é mais fácil entender a futilidade de algumas acções ou de alguns pensamentos. Nada fica suficientemente longe de nós quando somos um todo: nem terramotos, nem guerra, nem sofrimento; nem alegrias, vitórias ou grandes empreendimentos.
O bem que fazemos aos outros e à Terra é uma colher de sopa de água que acrescentamos à nossa taça universal. E o que é retirado não deve se compensado com mais subtracções, mas sim com mais adições.
Até porque quando julgamos que subtraímos, o que estamos a fazer é apenas a alterar superficialmente o aspecto das coisas. A essência de tudo, da Terra, de todos nós, é sempre a mesma e inalterável: o amor.
Quem é que pode ter a pretensão de vencer o amor?

domingo, 31 de março de 2013

energia

Ilustração MMFerreira
Gosto de chegar a cara às plantas, às flores, à relva e sentir aquele formigueirinho quase imperceptível, a energia que anda à roda das coisas. Gosto de a sentir no vento que também traz outras energias e nos agita de novo para a vida. Antes preocupava-me a falta de energia e o cansaço, até perceber que nunca falha à nossa volta, que é inesgotável e que basta saber por onde anda para recarregar baterias. Amanhã, segunda-feira, vai haver mais, vai haver tudo de novo, energia, alegria e vida, muita vida.

quinta-feira, 21 de março de 2013

da paz

Não gosto de extremos. Comunistas e fascistas sempre tiveram para mim o contra do totalitarismo. E eu sou pela liberdade. Também não gosto de monárquicos porque acho que ninguém precisa de se pôr em bicos de pés se tiver uma boa auto-estima, nem acredito que o nascimento conceda outros direitos do que os de existir em igualdade de termos com toda a gente. E gente que acha que sabe, pensa ou pode mais do que os outros é sempre um triste espectáculo e exemplo de si mesma. Abomino igualmente o terrorismo e a pena de morte. Não me sinto obrigada a concordar ou a participar de nenhum deles e espero nunca estar na circunstância de ter de o demonstrar. Perante a escolha de matar ou sofrer a morte, espero ter a força de espírito necessária para abraçar o meu fim sem ter de passar pelo tormento de condenar outra pessoa a isso. Não gosto de extremos, mas entendo os contrastes e contra as atitudes radicais sugiro os limites, de preferência os pessoais, que são o único território natural de quem existe. Procurei sempre a paz, mesmo quando incapaz de agir em coerência com a sua experiência. Sou tranquila, mesmo quando a paixão parece sugerir o contrário. Quem me lê com honestidade sabe bem quem sou.

terça-feira, 19 de março de 2013

os pequenos ladrões

Os pequenos ladrões - Ilustração MMFerreira
Deve ter ficado da inquisição ou dos idos tempos da pide, esta mentalidade dos pequenos ladrões que, por alguma ironia do destino, acreditam que a justiça nunca se preocupará o suficiente com eles para os perseguir. É a mentalidade do triste eleito no último escrutínio português, em que conseguiu convencer um considerável número de pessoas que era melhor do que os outros. Aproveitou o desânimo geral para criar esperanças de mudança, como qualquer vendedor de pontes sobre o Tejo ou de Rossios, instalou-se num poder que, obviamente, se encontra destituído de mecanismos de controlo, e apressou-se a contratar outros pequenos ladrões para o seu gangue. A finalidade é vender rapidamente o País aos grandes ladrões, que por falta da tão crucial honestidade pessoal também acreditam que ficarão impunes para todo o sempre, têm como objectivo controlar, dos seus escritórios virtuais, o mundo inteiro. No final desta história, vão viver felizes num qualquer bunker escondido das multidões escravizadas e enfurecidas, muito felizes com as suas incomensuráveis fortunas e aterrorizados com a possibilidade de os descobrirem e voltarem a tirar o que tão vilmente arrecadaram.
A história dos pequenos e grandes ladrões nunca é gloriosa nem feliz. Mas é especialmente triste porque os seus personagens se iludem com a ideia de que são muito mais espertos e capazes do que os outros. Alheados da realidade, são incapazes de avaliar as consequências dos seus actos e, quando isso acontece, tudo o que lhes resta é o instinto sobrevivência dos animais acossados, desesperados e em permanente fuga dos seus predadores. São alcateias que acabam por se lançar no precipício por falta de outra direcção de fuga. E, nessa altura, onde está o poder e a glória que tão desastradamente construíram?
Os pequenos ladrões são sempre infames e desgraçados, cães selvagens cujas dentadas se fincam na sua própria carne. O seu destino é sempre tenebroso porque não há futuro nem progresso na ausência de consciência. E os heróis são sempre os que chegam depois.

quinta-feira, 14 de março de 2013

abraços e café

Ilustração: MaritaMorenoFerreira
Toda a gente gosta de abraços, assim à laia de cachecol fofo enrolado à volta do pescoço, confortável, quente, macio. Sensação boa, familiar, protectora. Até os oferecem na rua, momentos de boa vontade que são como bandeiras de alerta mais de quem oferece do que de quem recebe.
Pois a mim não me agradam os abraços vindos do nada, de gente desconhecida que acha natural irromper de repente pelos nossos meios metros de privacidade e forçar uma intimidade inexistente. Quem são esses santos da carência que de repente se envolvem nessa cruzada afectiva e esperam o apreciado retorno?
Bem sei que também é santo aceitar e entender a dádiva na sua verdadeira intenção, mas prefiro a zona de conforto do sofá e uma caneca de café quente, mais um abraço de quem de facto está perto de mim.
Que me perdoem os espontâneos abraçadores de rua, pois até aceito um abraço desconhecido vindo até a mim num momento de necessidade. Abraço também qualquer desconhecido noutros momentos igualmente necessários. Mas não me sinto confortável a receber abraços que me parecem mais gritos de ansiedade do que cachecóis afectivos.
Parece-me mais adequado trocar o abraço vindo do nada por um café quente e uma conversa vinda de pequenos nadas, antes de passar às trocas energéticas mais complexas. É o que me parece.

segunda-feira, 11 de março de 2013

queres?

Foto MMFerreira
Chega ali à beira-mar, saca o giz do bolso e escreve a sua declaração. Acrescenta-lhe um coração, não vá o objecto da sua inspiração trocar-lhe o sentido e, assim, pelo menos, o boneco não engana. Se bem que o sítio que escolheu seja, apesar de tudo, o local onde todo o mundo assenta os traseiros, sem cerimónia, sem ligar à mensagem rabiscada a branco na tábua do meio. É lá sítio para fazer uma declaração, aquele que serve para aparar os ditos cujos de todo o mundo... Se fosse eu, afinava, mas o autor da dita, nublado como devia estar pela cegueira da paixão, com certeza não perdeu tempo com isso. E até deve ter sido surpreendido pela questão logo levantada: então, uma declaração num sítio de assentar traseiros e, possivelmente, arejar alguns excessos gasosos intestinais? Quando se é simpático, apaixonado e essas coisas não se pensa assim e todos os meios são bons para um elevado fim. Portanto, queres namorar comigo? (coração) no assento de todos os back sides passeantes é uma fórmula tão boa como qualquer outra. Queres?

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

gritos de ajuda

Michelle Obama teve direito a mais pano na parte superior do vestido na foto da cerimónia de atribuição dos Óscares distribuída no Irão. Em Angola, aquando da sua candidatura à presidência, Hillary Clinton foi interpelada por um estudante que queria saber o que o marido, Bill, pensava sobre o facto. Isabel Magalhães, do Movimento Ser Cascais, teve direito a um "tiro" na testa, barba farta, nome travestido para o masculino e um coração negro em lugar do "sem" partidos.
Continua enraizada a crença de que a política é coisa para homens de barba rija e perigosa para o sexo fraco. A mudança assusta, sobretudo quando feita no feminino e demarcada dos interesses estabelecidos.
O mais caricato é verificar como esse susto cresce de forma igual entre gente que não partilha a mesma visão solidária e reparadora do que aflige as sociedades actuais, e gente que, mesmo sofrendo ou por isso mesmo, não se concede o direito de mudar.
Em Cascais, Isabel Magalhães propõe um novo modelo: governo local de independentes, divorciados de filiações partidárias e outras. Ou seja, quer mostrar que governar sem o jugo do compromisso de grupos de interesses vários é o condimento essencial para mudar o desastroso estado de crise financeira e social. Quer arrumar a casa e provar que o dinheiro de todos é mais do que suficiente para transformar o concelho num exemplo a seguir. E que o que está mal é que o dinheiro de todos esteja, há décadas, a servir para enriquecer franjas parasitárias da sociedade.
No dia a seguir à inauguração informal da sede da sua candidatura, um cartaz lança um aviso à mudança. Um grafiteiro, provavelmente desempregado e sem perspectivas, desenhou os contornos dos medos colectivos no cartaz colocado à porta da sede. O vandalismo gratuito toma o lugar da esperança, e soa como um pedido de ajuda. Atacado o mensageiro e a mensagem, o que se segue?
A mudança assusta, sobretudo quem grita por ela.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

um sol devorador

Desenho MMFerreira
Sempre gostei do Sol, mesmo à noite, quando não se via. Imaginava-o escondido atrás das estrelas e viajava até lá, para o admirar. Melhor, mesmo, era saltar na Lua como os astronautas, embora a possibilidade de ficar cheia de poeira me apoquentasse de vez em quando. Ou então, quando passeava de bicicleta pela rua, logo de manhã, e punha a hipótese de a ver levantar voo na direcção do Sol, atraída pela sua força devoradora de mais e mais energia...

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

babouchas

Escultura de Marita Setas Ferro
As Mulheres e as Babouchas é o nome da exposição da Vértice, nas Arcadas do Estoril, sobre as cómodas peças de pele características do Norte de África. Título interessante, que reuniu um grupo de artistas plásticas, com as suas interpretações das babouchas.
Desinteressante foi o inexistente trabalho da galeria e respectiva galerista, que aparentemente não valoriza a sua actividade a ponto de investir numa exposição que podia ter atraído o interesse de muita gente da zona e de fora.
Valeu o empenho das artistas, que desenvolveram uma série de curiosas ideias em torno do tema, como um par de babouchas acorrentadas, outro numa gaiola, babouchas com asas e outras abordagens interessantes.
A exposição vai, em Fevereiro, para o Porto e, em seguida, para Paris, cidades em que, esperemos, o trabalho possa ser divulgado e apreciado como na Vértice não foi possível.


quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

o novo ano

all rights by MMFerreira
Pode parecer pop, ligeiro e até infantil, mas vai ser assim o meu novo ano. Simples, alegre e feliz. O mesmo desejo a todos os outros, amigos e inimigos, indiferentemente.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

expectativas

Fim do ano, fim do mundo, natal, aniversário, fim-de-semana, férias, feriados. Datas, momentos, minutos, todos especiais, todos carregados de expectativas desmesuradas. Que não se verificam para a maioria das pessoas. E não é só porque são demasiado grandes e não têm nenhuma forma de se materializar, por magia, no momento, na hora ou no dia marcados. Não. É só porque não prestamos atenção e não tratamos de viver o presente, sem expectativas que nos situam no futuro, que ainda não existe e, por isso, não podemos gozar.
As expectativas são fantasias. O momento actual é que importa. Não é o fogo de artifício do fim do ano, as correrias para um natal em que esperamos todos sentir aquilo que desejamos, naquele dia, com aquelas pessoas, em circunstâncias que nunca correspondem às que imaginámos, porque não dependem de nós.
O aqui e agora superam tudo isso, mas a teimosia das expectativas insiste em afastar-nos sempre do momento que vivemos e que é o mais importante, o único que conta. Nunca ligamos ao que é importante e, o pior, é que educamos toda a gente para desligar do presente e concentrar a sua atenção num futuro que não existe e que não temos forma de prever ou moldar ao nosso gosto.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

nota positiva

Foto e trabalho de MMFerreira
A melhor forma de se começar uma semana é com uma nota positiva. Já dedilhei a minha e não acolherei dissonâncias. A felicidade é, afinal, muito simples.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

o maior golpe

foto MMFerreira
Elegemos pessoas para gerirem os bens comuns que, mal se apanham nessa posição, nos subtraem poder e bens, para os alienar, vendendo-os a empresas que assim se tornam donas de nós. Tem de haver uma forma de tornar completamente ilegal este tipo de acções. De ilegalizar permanentemente políticos e o poder que se conferem. Afinal, todos os outros são a maioria e é preciso que seja respeitada.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

emprenhar pelos sentidos

Foto daqui.
Se alguém estiver a comer e outra pessoa começar a falar de vómitos, ranhos e cocós, isso pode parecer engraçado a alguns, mas a maioria sabe que é uma coisa de mau gosto e a evitar a todo o custo.
Da mesma forma, se alguém estiver assustado com alguma coisa, é muita maldade falar-lhe do que assusta essa pessoa. O normal e desejável é evitar o assunto e tentar acalmar e distrair a pessoa do que a assustou.
Sendo assim, por que razão me enchem os ouvidos com a crise as dificuldades e outras notícias deprimentes? Que horrível e sádico deleite é esse o das pessoas que se chegam ao pé de nós só com notícias horríveis, desgraças que aconteceram e antevisões das que vêm aí, que ainda não existem, mas que juram a pés juntos que vão abater-se sobre todos?
Deixem de encher o meu mundo com o vosso sangue, real ou imaginário, com as vossas lágrimas e com o vosso desespero. Se não acreditam em nada, fechem os olhos e rendam-se de uma vez à falta de luz, ao medo e às fantasias paralisantes. Não se levantem de manhã, que não vale a pena, não usem o telemóvel nem as redes sociais para envenenar tudo com a vossa desesperança.
Não comprem jornais, não vejam noticiários e fiquem nas vossas camas, deitados e à espera do fim do mundo. Pode ser que ao fim de uma semana de silêncio e paz, a vossa realidade tenha voltado ao normal e consigam usufruir de tudo o que têm à volta e não aproveitam por emprenharem pelos sentidos com as desgraças que não são vossas.