quarta-feira, 23 de julho de 2014

haja quem vos ature

Kyoto - MARLIES MERK NAJAKA
Do ponto de vista da honestidade do observador, por que haveria ser mais estranho aceitar um país de língua espanhola (castelhana -  eu se fosse aos castelhanos aborrecia-me a sério) na cplp, na mesma semana em que um tipo que foi despedido do cargo de primeiro ministro se anuncia como candidato à presidência da república?
Quase tão natural como dizer que o País é pouco produtivo e está em crise e até precisou da ajuda da troika, quando toda a gente sabe perfeitamente que ninguém empresta dinheiro a ninguém se não houver hipóteses de pagar, e muito caro. (Otários...)
Que haverá de estranho em ter um país corrupto a injectar dinheiro num banco gerido por corruptos, com o beneplácito de outros corruptos? Absolutamente, nada, claro.
Ao menos os tipos do país do espanhol (castelhano) ainda podem afirmar que o português vem do espanhol (não do Galego) e que por isso estão em casa. Isso até é lógico, mesmo que de forma retorcida e pouco simpática. Mas os nacionalismos são assim, uma espécie de discriminação que desune como o raio, mas que toda a gente acha elegante defender.
Também ninguém estranha o abatimento de aviões e consequentes actos de pilhagem em plena Europa do século vinte e picos, o continente que desenhou a civilização tal como a conhecemos. Que há para estranhar quando uns rufiões decidem que vão fazer o que decidiram e já está? Toca a sentá-los todos à mesa com os que não se consideram rufiões e bebem e comem com eles e depois dizem que assim não pode ser, mas continuam sentados com eles à mesa. Diz-me com quem andas...
Agora também rezam todos para que a chapada de criar bicho acabe na terra dita santa e em nome de dois deuses que provavelmente são o mesmo e não tem nada que ver com aquilo. Qualquer pretexto é bom para fazer uma birra e causar sofrimento, digam os livros sagrados o que disserem, que só se lêem as partes que interessam num dado momento, e mesmo essas de questionável veracidade, visto que ninguém se põe de acordo nestas alturas e a verdade tem a simples qualidade de servir a todos do mesmo modo, ou não é de todo a verdade.
Pode concluir-se que muito se teima neste diz que disse que só serve o equívoco e os impulsos para considerar que a mentira ainda continua a ser um meio credível para alcançar a paz, mesmo que a mais elementar coerência nos grite que a verdade e a paz não podem vir de erros, tal como a laranja não pode vir de um rasteiro feijoeiro.
Haja quem vos ature!

domingo, 20 de julho de 2014

o som e o pesadelo

«Ventriloquist» by Martin Wittfooth, New York
A engraçada noção que persistimos em manter do Verão associado a férias, descanso e à tranquilidade com que todos sonhamos é sistematicamente pulverizada pelas dezenas de festas populares, festivais e eventos com que, abusivamente, as autarquias e as grandes multinacionais bombardeiam tudo e todos, dia e noite, e já em todas as estações.
Péssimo investimento é comprar ou alugar casas junto dos locais habitualmente escolhidos para esse tipo de eventos, sejam eles citadinos ou de lugarejos que viram infernos durante a sua realização. Para esses casos não há lei do ruído que nos valha, não há prevaricadores, não há direitos.
Além de esmagarem a concorrência de qualquer agente cultural com os seus mega espectáculos ao preço da uva mijona ou totalmente gratuitos, impõem a sua versão de «alegria» e «vida em festa» a todos os infelizes que se lembrem de viver num raio de dois quilómetros do acontecimento.
Os motivos que levam os grandes decisores nacionais a flagelar toda a gente com este conceito de boa disposição pública só podem estar relacionados com os métodos de tortura mais corriqueiros de qualquer polícia secreta e repressiva, em que a privação do sono e da tranquilidade serviram para espremer vontades contra os direitos e os desejos dos indivíduos.
Será que a lei da causa e efeito proporcionarão aos responsáveis por este flagelo uma encarnação num mundo reduzido a uma gigantesca coluna de som a pairar pelo espaço?

domingo, 13 de julho de 2014

obediência




Autor do famoso poster de Obama, Hope, Farley começou como skater e a desenhar nas pranchas dos outros. Hoje comercializa roupa e posters, é um artista mainstream e insiste em questionar a obediência. E tu, obedeces?




sexta-feira, 11 de julho de 2014

quarta-feira, 9 de julho de 2014

o valor da arte

Toda a gente sabe que os artistas não têm onde cair mortos. Que o melhor é arranjarem trabalho, porque o que fazem não é classificado como tal. Só depois de mortos adquirem valor e são outros que arrecadam o fruto do seu trabalho.
Mesmo assim, o valor da arte transcende o material e supera-o em tudo. O material é do pó e ao pó volta. A arte, pelo contrário, é um labor do pensamento que, como o espírito e por lhe pertencer, tem a imortalidade como atributo máximo.
A capacidade de expor novos conceitos e transportar quem a observa faz da arte um caminho para a metade do pensamento que pertence ao amor, à verdadeira criatividade e ao que tudo transcende. Essas qualidade conferem à arte um valor incalculável, demasiado alto para causar o desconforto e a insegurança que fazem com que políticos e financeiros a remetam para o canto das actividades que nem merecem ser valorizadas.
Apesar disso, todos os materialistas se vão, como pó e a arte permanece, sempre com o inegável valor que tem, de pensamento livre e capaz de mudar outros pensamentos. E uma qualidade assim não se pode modificar, nem desaparece porque muitos se esforçam por a votar ao esquecimento. Ela existe e sempre existirá, a despeito de tudo e de todos.
Quem acha que a arte não é um trabalho falha estrondosamente no cálculo do valor da vida e está cego para a riqueza que ela comporta. Que não se mede nem pelos milhões que possa render depois da morte dos seus autores.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

panem et circenses

Imagem daqui
A cultura transformada em ilusionismo é a prática política que mais popularidade ganhou nos últimos anos. Pão e circo (panem et circenses), com muito menos pão porque a finalidade é manter um reduzido número de patrícios e muitos dependentes.
Os impostos que todos pagamos, nem que seja apenas através das taxas aplicadas a todos os serviços, sempre contemplaram uma pequena parcela para a cultura. O Estado tem uma verba para a cultura, mesmo tendo acabado com o ministério correspondente. As câmaras têm verbas para a cultura.
A finalidade desses tostões era promover a cultura, ajudando os agentes culturais a criar os seus espectáculos e as suas formas de se expressar. 
Acontece que, com o dinheiro que é de todos, em vez de promover os agentes culturais, as entidades públicas criaram formas de se constituírem eles próprios em agentes da cultura. Sem aptidões próprias para isso e com a finalidade de fornecer o tipo de 'espectáculo cultural' que serve melhor os seus propósitos.
O país tornou-se, portanto, num grande palco em que os políticos são os supostos mecenas, enchendo praças, ruas e espaços culturais com as diversões que entendem. Tudo de graça, tudo para diversão do povo.
Os artistas e os verdadeiros agentes culturais, vêem-se dessa forma impedidos de competir com a cultura instituída, que é de borla e arrasa qualquer tentativa de produzir ofertas e mensagens em liberdade de pensamento e em nome da verdadeira cultura.
Enquanto o País pula de festa em festa, sacudindo as preocupações com bebida e luzes patrocinadas por grandes multinacionais, a livre escolha e o pensamento são erradicados da vida de cada pessoa, as alternativas suprimidas e toda a oferta fica sob o controlo dos políticos.
Açambarcar assim uma área de actividade devia ser objecto de investigação desse discreto organismo que dá pelo nome de Alta Autoridade para a Concorrência. Devia ser um crime público, para que qualquer um pudesse denunciar o abuso e a manipulação, uma vez que os artistas e os agentes de espectáculos jamais terão hipótese de financiar a seu favor o julgamento deste tipo de violação e abuso de poder.
Quando aceitamos a ideia de Estado e de Governo confiamos a representantes a nossa defesa, não a nossa alienação.

terça-feira, 1 de julho de 2014

love unique

love unique by rumoresdenuvens
Uma vez ocupado pelo amor, não há lugar para mais nada num coração ocupado pelo amor. Ele é o centro, o princípio e o fim de tudo. Love unique. Alfa e ómega, a plenitude, a alegria e a grande força por detrás de tudo.

segunda-feira, 30 de junho de 2014

sexta-feira, 27 de junho de 2014

maranghi femmes



Giovanni Maranghi nasceu em 1955, em Florença. Neto do pintor Alfonso Maranghi e filho de um marchand de arte, trabalha essencialmente a figura feminina. Estudou no Liceo Artistico e na Academida de Belas Artes da sua cidade natal. Aos 20 anos expôs em Bary, lançando uma carreira na Itália e no resto do mundo, como um dos artistas contemporâneos mais interessantes.
Membro da velha Paiolo di Firenze Company, uma associação cultural que nasceu em 1512, usa uma série de técnicas e estilos de pintura, incluindo colagens e materiais de moldar que levam muito tempo a produzir. As suas obras incluem pedaços dos blocos de notas, mapas, papel de fax e outros materiais sob a pintura.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

os que partem

Imagem de MrLalle, daqui
Os que partem regressam ao seu estado natural, no espírito, em união com o todo. Regressam à liberdade, ao amor, à plenitude. Nesta ilusão que temos de uma realidade material, esse regresso é sentido em dor, esquecidos como estamos de que também somos eternos, imortais, luz e amor como os que aparentemente partem. Neste mundo, toda a separação é dor. Esquecemo-nos de que também fazemos parte do todo eterno e que até a separação temporária tem um fim. Lembremo-nos entretanto com amor do que aprendemos com os que vão, da primeira vez que os vimos, do afecto que nos suscitaram, do riso que partilhámos. Deixam saudades. Até breve.

(à Tamara, que partiu hoje)

quarta-feira, 11 de junho de 2014

a world of my own

imagem de MMF
Por momentos o mundo é só meu, habitado apenas por sons e por formas que vivem dentro de mim. Nessas alturas a sincronia é total, a tranquilidade e a felicidade indescritíveis. São instantes em que se entende o universo, a vida, o espaço e o tempo de uma só vez. Num único pensamento se gera toda a força e energia que conseguimos abarcar.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

arte intensa

By NemO’s in Milano, Italy.
Hão-de querer arrumar-vos numa caixinha muito clean, embrulho perfeito e bonitinho, para massificação; apresentar-vos como animais de estimação lavados, escovados e bem treinados, para trotar em exposições; fazer todo o possível para mostrar como o vosso génio é polido, como um naco de carvão que vira diamante e perde o bruto para ganhar em faces muito lisas e adequadas aos olhos de quem mais aprecia o brilho do que a força que lhe dá origem.
Artistas e obras de arte são forças da natureza, ecos da realidade que não se molda a convenções. São jorros de verdade que se libertam pelas mãos de quem presta atenção ao que genuinamente importa na vida. Não sofrem de contenções impostas e antes aceitam o que a inspiração, o que é por direito inerente a toda a vida, lhes apresenta com generosidade. E retribuem de forma igualmente generosa, partilhando connosco a sua arte.
Intensa e de extremos é a obra destes xamãs dos nossos dias. Para eles não há meios termos e até a suavidade traz consigo uma intensidade insuspeitada. A vida é sempre curta para quem sabe que todos os momentos contam e que o fulgor não pode deixar de lhe pertencer.

liberdade do pensamento

foto daqui
Fechar os olhos e pensar num farto pequeno-almoço, de fruta, hidratos de carbono e café. A sensação de prazer é tão autêntica como estar à mesa a dar conta de uma pilha de panquecas e frutos. A diferença fica na sensação que se segue. O pensamento que nos faz sorrir de prazer e nos liberta em seguida para outras experiências. Ou o prazer que nos amarra à digestão e à consciência de um corpo que, encarado como uma realidade demasiado presente, nos limita. Qualquer das hipóteses se acarinha e se abraça como válida e enriquecedora. O prazer experimenta-se de muitas formas, mas a liberdade do pensamento jamais deixa de nos surpreender.

domingo, 25 de maio de 2014

o desconto

Não sei o que tanto enche de orgulho o partido 'ganhador' destas europeias à portuguesa. Pouco mais de 10% foi o resultado real da votação, no total de votantes inscritos. Menos do que algumas campanhas de promoção de bens de consumo e serviços. 
O importante aqui são os mais de 62 por cento que não votaram porque não acreditam na democracia apregoada pelos partidos. A falta de crédito e de vergonha de quem se arroga o direito de governar com uma minoria que não representa senão aqueles que ainda acham que ganham qualquer coisa por apoiar os lobbistas partidários.

terça-feira, 20 de maio de 2014

entrega

Catherine Ahnell
Voar sem receio algum numa explosão que nos arrebate, que nos lance como uma bala pelo desconhecido. Tal é o destino do amor. Da aceitação do que nos atrai, sem jamais sabermos onde vai dar. Não é para todos. Apenas para os que conhecem a extensão do arrebatamento, o sabor da corrida para o abismo, a exaltação até ao que parece quase uma loucura suicida mas é, simplesmente, a capacidade de entrega.

Ortega y Gasset e Cascais



palavras de Ortega y Gasset

"O acanalhamento não é outra coisa senão a aceitação como estado habitual e constituído de uma irregularidade, de algo que continua a parecer indevido apesar de ser aceite. Como não é possível converter em sã normalidade o que na sua essência é criminoso e anormal, o indivíduo opta por adaptar-se ele ao que é indevido, tornando-se por completo homogéneo com o crime ou irregularidade que arrasta." (Ortega y Gasset, «A rebelião das massas»)

que me faz lembrar o comentário do minoritário CC(*) de Cascais sobre o Plano de Pormenor de Carcavelos Sul -- também citou (**) Ortega y Gasset, mas só uma frase (***) mais conveniente do que esta (****)

(*) de 172 537 eleitores inscritos, votaram 65 549 e, no minoritário CC, votaram 28 004, o que dá 16,23% dos votos e não os 42,72% que as lista da CMC apregoam, contando apenas com os votantes, porque o resto não interessa; devem ser todos não-cidadãos...

(**) Em abono da verdade, diga-se que alguém o deve ter feito por ele pois, seguindo atentamente a agenda do executivo camarário que o edil publica em todos os meios electrónicos, com tanto corta-fita não há tempo físico para escrever tanto em tanto lado...

(***) [...]"Ortega y Gasset dizia que “um homem é ele e as suas circunstâncias.” Isto significa que nenhuma ação do individuo pode ser entendida fora de um contexto, de uma circunstância, de uma realidade cultural, social, económica, ou ambiental. [...] (in «Declaração Política da Coligação Viva Cascais sobre o Plano de Pormenor de Carcavelos Sul - May 8, 2014 at 1:07pm», por Carlos Carreiras, na sua página no Facebook)

(****) citação produzida por Carlos Carranca no FB, num contexto muito diferente deste.

domingo, 18 de maio de 2014

crimes públicos


Chegamos a uma crise quando as nossas prioridades foram de tal forma esquecidas e substituídas por valores tão opostos que realmente interessa, que o caos se avoluma à nossa volta.
A situação do projecto para Carcavelos Sul é um desses focos de caos, de erros e enganos que agora se traduzem na forma da pior das soluções que, mesmo assim, alguém tenta ainda justificar e validar, insistindo no erro, no engano, no caminho do caos.
Triste é também ver como alguém tenta validar o erro tendo como único argumento o ataque pessoal aos seus opositores, usando os seus alegados erros para justificar a sua má decisão, o seu mau governo, a sua ausência de soluções e a falta de imaginação, até para aproveitar as soluções apontadas por outros.
Porque o caos também vive em quem usa a sua posição privilegiada para o abuso dos que julga abaixo de si.
A desculpa com os erros alheios não honra ninguém. Pelo contrário, demonstra imaturidade pessoal, social e política, retratando uma acção ou reacção enfraquecida pela falta de convicção.
Como não honra igualmente ninguém o abuso de poder, traduzido na validação de projectos que desfiguram a linha de costa e absorvem os poucos espaços verdes que ainda existem.
Um dia, não muito longínquo, estes atentados poderão ser denunciados como crimes públicos e punidos com mão pesada, como o foram os crimes dos ditadores, que nunca acreditaram que a consciência pública fosse capaz de mudar a lei que protegia a sua impunidade.