segunda-feira, 5 de outubro de 2020
5 de Outubro familiar
terça-feira, 29 de setembro de 2020
miss Libby e os abutros
Entre as muitas actividades de que a minha mãe se lembrava para me manter debaixo de olho, além de me fazer frequentar as aulas de estenografia, caligrafia e dactilografia que leccionava, havia as aulas de alemão de Miss Libby.
A minha mãe sempre sempre teve uma habilidade especial para acolher debaixo das suas asas cães, gatos, lagartixas e outros seres estranhamente desemparelhados na vida. Miss Libby era uma dessas criaturas. Professoras no mesmo colégio, as duas tornaram-se imediatamente amigas.
As aulas tinham o propósito de controlar a minha mente ociosa com interesses dignos aos olhos dos adultos e, ao mesmo tempo, dar uma ajuda ao orçamento de Miss Libby. Tinham lugar num "apartamento de solteiro" que alugava na Ponta Gea, na Beira.
Ao contrário da resistência esperada da minha parte, tudo naquelas explicações me encantava. A começar pelo apartamento minúsculo, sempre mergulhado na penumbra e cheio de livros em mais do que duas ou três línguas. Não falhava uma tarde.
Miss Libby exercia um fascínio total sobre mim. Sempre vestida de escuro, com o cabelo preto agarrado atrás, o nariz adunco que ocupava quase toda a cara. Falava muito sozinha e tocava nos livros enquanto se mexia de um lado para o outro.
Era nova e até eu, com os meus dez anos de experiência de vida, conseguia notar isso. Mas parecia a pessoa mais velha do mundo, com memórias que se arrastavam com ela e me faziam acreditar que tinha vivido incontáveis e secretas aventuras. Ao lado dela transformava-me numa sombra, à espera dos segredos que tinha para me revelar e que já incendiavam a minha imaginação.
As aulas de alemão decorriam com grande intensidade, com Miss Libby a perorar interminavelmente naquela e noutras línguas, porque a mente dela também tinha a capacidade de a desviar para dimensões paralelas onde escondia as suas outras vidas. Para mim, tudo aquilo era simplesmente fascinante.
Quando a minha mãe chegava, no fim das lições, ouvia as deambulações de Miss Libby sobre as indignidades do mundo. E antes de sairmos, o seu aviso preferido: "São abutros, Aida. Abutros!"
E lá a deixávamos, com os seus livros e fantasmas, na sombra do apartamento e das vidas que a faziam parecer tão velha e interessante.
quarta-feira, 9 de setembro de 2020
descobre o cão
segunda-feira, 17 de agosto de 2020
sopros
"belonging" by MMF |
sexta-feira, 24 de julho de 2020
silêncio intermitente
terça-feira, 21 de julho de 2020
sobreviver às tempestades
segunda-feira, 20 de julho de 2020
quinta-feira, 16 de julho de 2020
santos e manjericos
"Santos Manjericos" - MMF 2020 |
quarta-feira, 10 de junho de 2020
dia de Portugal a cores
"Green, Red and Yellow Hearts" - MMF |
quarta-feira, 27 de maio de 2020
maio, mulheres e vermelhos
"Starry Women" by MMF |
segunda-feira, 25 de maio de 2020
looking for elephants
"looking for elephants" by MMF |
sexta-feira, 22 de maio de 2020
arte, para que te quero?
"leaves" by MMF |
segunda-feira, 11 de maio de 2020
pela sombra
"Walk Under The Trees" by MMF |
sexta-feira, 24 de abril de 2020
ataques dos diabos
É com certeza o Diabo que nos põe estas coisas na cabeça e nos condena. Porque Deus, bom e perfeito, não pondera sequer essas maluquices que tanto nos atormentam. O seu a seu dono então.
quarta-feira, 22 de abril de 2020
ataquei o jardim
'Wild Garden' by MMF |
segunda-feira, 20 de abril de 2020
ora no cravo, ora na revolução
sábado, 18 de abril de 2020
vermelhos, árvores e vento
"African Walk" by MMF |
quarta-feira, 8 de abril de 2020
pontaria cega
segunda-feira, 6 de abril de 2020
mãos que criam e destroem
As mãos curam e também trazem com elas aflições. São as nossas varinhas mágicas, para o mal e para o bem. Criam e destroem com igual eficiência. Temos de aprender a usá-las de forma mais consciente. A usar tudo de forma mais adequada.
Um dia, uma bruxa veio oferecer-me uma mezinha para a boa fortuna em todos os meus empreendimentos. Parecia uma oferta irrecusável e, por isso mesmo, quis saber o que ganharia ela com isso. Não queria nada, só ler as minhas mãos e o resto desenrolar-se-ia naturalmente, na opinião dela.
A informação pareceu-me escassa, sobretudo para o nível de altruísmo apregoado. Não havia, aparentemente, letras pequeninas. Mas quando não me respondem a uma pergunta e está implícito um grau de envolvimento da minha parte, faço questão de avançar com uma boa dose de dados para avaliar as minhas obrigações neste tipo de partilha.
Recusei a oferta, que imediatamente se transformou numa maldição. Depois de tapar os ouvidos a muitas invectivas, pus sal à porta, defumei a casa, mudei de passeio sempre que necessário e mais o que se tornou necessário para combater aquela situação.
Nunca mais disponibilizei as mãos para desfrute indiscriminado dos outros. Aprendi a lição da simpatia que é usada como o ouro dos tolos e esconde perigos para os quais não nos oferecemos voluntariamente.
As mãos das bruxas não são feias, nem têm garras visíveis. Eventualmente, estão cobertas de vírus implacáveis e invisíveis. As bruxas também não seguem nenhum código especial de sinalização contra as ameaças. Nem as mãos.
Façamos delas varinhas de boas práticas com as nossas escolhas. Usemos a consciência informada para optar preferencialmente pelo lado bom de todas as mãos.