Come gather 'round people / Wherever you roam / And admit that the waters / Around you have grown / And accept it that soon / You'll be drenched to the bone. / If your time to you / Is worth savin' / Then you better start swimmin' / Or you'll sink like a stone / For the times they are a-changin'. // Come senators, congressmen / Please heed the call / Don't stand in the doorway / Don't block up the hall / For he that gets hurt / Will be he who has stalled / There's a battle outside / And it is ragin'. / It'll soon shake your windows / And rattle your walls / For the times they are a-changin'. // Come mothers and fathers / Throughout the land / And don't criticize / What you can't understand / Your sons and your daughters / Are beyond your command / Your old road is / Rapidly agin'. / Please get out of the new one /If you can't lend your hand / For the times they are a-changin'. (Bob Dylan, 1964)
Queremos todos mudança e todos nos assustamos com ela. Porque exige honestidade e clareza. Porque nos custa admitir essa parte do nosso carácter que se acomoda às coisas que estão mal e nas quais tomámos parte, nem que seja pela recusa de tomar uma decisão diferente.
Em cima do muro fica o inferno, aquilo que nem é sim, nem é não. A dificuldade em tomar uma posição que, se é certa, mesmo assim suscita a dúvida e nos atormenta; e se é não cria a culpa que nos esmaga.
Os tempos, ou as circunstâncias mudam, mesmo assim. Somos mais de sete biliões de pessoas a tomar decisões, e aqui estou a partir do princípio simplista de que só nós contamos para esta insana complexidade de possibilidades que tudo e todos afecta. Mesmo assim temos a pretensão de saber o que andamos a fazer e que podemos prever um mínimo de desfechos lógicos.
Há, apesar disso, alguma lógica e possibilidade de coerência neste inocente estado de consciência a que nos remetemos? Nem por isso, nem por sombras.
O mais engraçado é que, apesar disso, com mais ou menos consciência, fazemos uma cara séria e assumimos uma postura de quem sabe exactamente o que está a fazer.
E a mudança continua, independentemente da nossa vontade e do nosso contributo. Porque apenas a consciência muda, na nossa contemplação desta contínua e inatingível complexidade de acções e efeitos.
Portanto, podemos ser exactamente que quisermos, ou sofrer por acharmos que não. Nada disso importa realmente para o resultado final de todas as coisas, neste insignificante papel que desempenhamos individualmente.
Por outro lado, uma pequena pedra deslocada do seu sítio, pode fazer desabar uma montanha. E as montanhas não estão à espera disso, claro. Por isso, que garantias eternas nos dão também as montanhas, se mais tarde ou mais cedo desabam como tudo o que esmagam?
As probabilidades são idênticas para grandes ou pequenos e nisso é que está a justiça de tudo.
A memória é uma espécie de manual do jogo da vida, como esta letra do senhor Dylan que, há cinquenta e quatro anos, preconizava a mudança e que tão bem se aplica aos nossos tempos.